Chávez tenta irritar EUA falando em cooperação nuclear com Brasil e Irã

Altas fontes na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) consideram as declarações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sobre seus objetivos de lançar um projeto nuclear em cooperação com o Irã ou com o Brasil como "mais uma tentativa de irritar os EUA". No domingo, em seu programa de rádio, Chávez afirmou que poderia lançar tal projeto e chegou a citar o desejo de uma cooperação com o Brasil.

Oficialmente, a AIEA preferiu não comentar as declarações, mas analistas deixaram claro que o tema é sensível. "Não é comum escutar alguém dizendo que está lançando um novo programa nuclear, principalmente com o Irã", afirmou um alto funcionário da AIEA com sede em Viena.

A AIEA esclarece que todos os países "têm o direito soberano de estabelecer acordo nucleares para fins pacíficos com qualquer outro governo". De fato, a agência não precisaria sequer dar seu aval ao acordo. Mas esses entendimentos somente poderiam ser fechados entre países que respeitam as salvaguardas impostas pela AIEA. Além disso, qualquer importação de urânio e de tecnologia teria de ser comunicada à agência.

Segundo os funcionários da agência, a polêmica em torno das declarações de Chavez não está relacionada tanto com suas menções ao Brasil. Mas principalmente com o fato de ter indicado o Irã como eventual parceiro.

"Desconhecemos a existência de um acordo de cooperação que tenha sido assinado por Teerã nos últimos anos. Normalmente, quando se busca um acordo de cooperação, a idéia é de tê-lo com um país com uma tecnologia que possa ser útil. No caso do Irã, pelo que sabemos, a tecnologia desenvolvida até agora não traria nenhum benefício aos venezuelanos", afirmou a fonte.

O Irã é alvo de críticas por parte de alguns governos que indicam que o país estaria tentando desenvolver seu programa nuclear. A AIEA admite que até 2003, Teerã estava violando uma série de regras de transparência ao não declarar suas atividades. Mas a agência da ONU afirma que tal comportamento teria sido revisto desde então.

Quanto à menção ao Brasil e também à Argentina feita pelo presidente Chavez, os analistas de Viena acreditam que um eventual acordo teria de passar pela Agência Brasileiro Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC). A AIEA vê a instituição como uma aliada na região e preferiria que, caso houvesse mais algum país na América do Sul que desenvolvesse certa capacidade nuclear, que fosse incluída na ABACC.

A AIEA reconhece, porém, que os venezuelanos são signatários dos acordos de não-proliferação de armas nucleares e ainda aderiram às salvaguardas. Isso significaria que, se Chavez optasse por construir uma instalação nuclear, teria de pedir autorização da AIEA para que a planta da usina fosse instalada.

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