Centro Vivo

Curitiba sofre um esvaziamento do seu centro. As grandes lojas se escondem nos shopping centers e as famílias com poder aquisitivo vão elegendo bairros para morar, onde lhes sejam preservados o status, a segurança e o conforto. A segurança, principalmente. Fenômeno semelhante aconteceu nos Estados Unidos, em cidades até de porte médio, quando das campanhas e conseqüentes leis dos direitos civis. Os negros foram conquistando, então, rapidamente e nem sempre de forma pacífica, sua igualdade, passando a vizinhar com os brancos, a classe dominante. Estes deslocaram-se para as cercanias das cidades e até para as zonas rurais, onde era possível construir mansões distantes da “incômoda” vizinhança.

O Paraná é considerado Estado-irmão de Ohio, nos Estados Unidos. Dayton, uma das principais cidades de Ohio, é exemplo dessa migração discriminatória, contra cujos efeitos hoje lutam tenazmente as autoridades. Regiões centrais inteiras, com casas de boa qualidade, na maioria sobrados, foram abandonadas pelos brancos, colocados à venda ou aluguel a preços ínfimos. O centro da cidade praticamente morreu. O grande comércio foi localizar-se no meio caminho entre o centro e as novas zonas dos brancos.

Um texto italiano particularmente feliz diz que a praça é a sala de visitas das cidades. É nela que os moradores se encontram, recebem turistas e visitantes, vão aos cultos religiosos, visitam edifícios históricos ou sentam-se em bares e restaurantes para um bate-papo, entre uma cerveja ou taça de vinho e um prato de macarronada.

É o que precisamos fazer com Curitiba, onde um largo grupo de comerciantes do centro elabora, para ter início já em novembro, um projeto de revitalização do centro, denominado Centro Vivo. Querem antes que o centro, que conta com um sem-número de lojas e outros estabelecimentos comerciais, se transforme num grande shopping center ao ar livre, enfrentando a concorrência dos fechados, que todos os dias abrem na cidade. Estes levam a vantagem da comodidade, segurança, estacionamento e toda a área coberta, o que é importante numa cidade de clima frio como a nossa.

Várias idéias vêm sendo desenvolvidas, a começar pelo reforço do policiamento, promoções diversas que divulguem o comércio, atraiam visitantes e lhes devolvam a segurança. As razões do comércio central são indiscutíveis. O centro está se esvaziando e empobrecendo. Multiplicam-se as lojas onde pessoas de baixa renda garimpam cestos de artigos baratos de liquidação, estabelecimentos de segunda categoria com poluição visual irritante, para atrair freguesia. Tudo isso se prende mais a problemas de ordem socioeconômica do que ao surgimento dos shopping centers, estes também um resultado natural do aprofundamento das diferenças de classes da população.

O remediado e o rico não usam transporte coletivo para não confraternizar com o pobre operário, nem sempre bem vestido. Eles não vão se misturar, nas lojas de liquidação de produtos baratos e de discutível qualidade, com o “povão”, que respeitam e rejeitam. O essencial é diminuir as diferenças socioeconômicas da população e, enquanto isso não se dá (e já tarda), é preciso fazer dos espaços vazios do centro, das praças, galerias, etc., a sala de visitas de Curitiba. É necessário reviver um velho projeto de utilizar os miolos das quadras com galerias, bares, restaurantes e lojas, como já existe, por exemplo, em partes de Roma. O centro tem de ser atraente, apesar dos pesares.

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