O padrão japonês de TV digital é o mais caro para o consumidor, considerando o valor do conversor de sinais digitais em analógicos, que é uma caixinha que permitirá o telespectador continuar utilizando o mesmo televisor. Essa é a constatação do relatório da Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (CPqD), contratada pelo governo para coordenar estudos técnicos realizados por universidades e centros de pesquisa sobre a implantação da TV digital no Brasil.

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O texto do CPqD, divulgado hoje (16) pela publicação Teletime, mostra que essa caixinha poderá custar neste ano R$ 761,00 se o modelo japonês for adotado. O segundo mais caro é o modelo americano, cujo conversor custaria R$ 715,00, e o mais barato é o europeu, ao preço de R$ 662,00. Essa avaliação considera um conversor com amplas funções como alta definição de imagens e interatividade, que permitirá usar o aparelho em funções próprias da internet, como acesso a e-mails. O europeu também é o mais barato nas versões mais simples do conversor.

O relatório, de 141 páginas, não sugere a adoção de um padrão específico. A conclusão do estudo, praticamente repete as diretrizes traçadas no decreto presidencial de 2003, que instituiu o sistema brasileiro de TV digital. O CPqD chama atenção para a necessidade de levar em conta, na escolha do padrão de TV digital, as perspectivas de mercado e de escala de produção, "o que influencia diretamente no investimento necessário ao setor produtivo e no preço final ao consumidor".

A informação de que o relatório havia sido vazado para a imprensa não agradou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, principalmente porque os estudos apontam algumas desvantagens para o padrão japonês, que tem a simpatia de emissoras de TV e do próprio ministro. Em entrevista coletiva, antes da publicação do estudo, ele disse que relatório "não foi feito para agradar ou desagradar ninguém", mas deixou claro que tem opiniões divergentes das conclusões da Fundação. "Ninguém vai mexer uma linha, mas podemos discordar."

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Costa havia prometido para ontem a divulgação dos relatórios dos institutos de pesquisa que fundamentaram as conclusões do CPqD, mas disse que estava aguardando a autorização deles porque os estudos contêm sigilo industrial. A assessoria da Presidência da República informou hoje que não havia previsão de data para a divulgação dos estudos da Fundação.

Costa chegou a dizer que o relatório do CPqD apresentava "incoerências" e "imprecisões". Ele citou o exemplo do conversor de sinais que estaria no relatório, segundo ele, a um preço de US$ 400, enquanto, há promessa de "uma empresa" de fazer esse conversor por US$ 43.

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O relatório aponta ainda as prioridades do sistema brasileiro de TV digital. No que se refere à inclusão social, o baixo custo é o item de maior prioridade, com nota 9, seguido da robustez (que é a garantia de que o sinal chegará ao televisor), com nota 6, e da interatividade, com nota 4.

O CPqD propõe que em seis anos toda a transmissão de TV seja digital. A implantação começaria pelas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde as cinco maiores emissoras comerciais (Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV) e a maior emissora pública (Radiobrás) teriam seis meses de prazo para iniciar a transmissão digital. Nas demais capitais, o prazo é de um ano.

A estimativa é de que o gasto do consumidor chegue a R$ 14 bilhões em 15 anos, considerando um valor médio de R$ 400 por conversor de sinais. A previsão da Fundação é de, após 15 anos, 81% dos domicílios terão conversores, considerando um valor de R$ 200 por aparelho. O CPqD foi contratado em 2004 e foram gastos nas pesquisas R$ 56 milhões, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).