Cartão e dinheiro vão substituir cupons do Fome Zero

Pressionado por críticas até mesmo dentro da área petista, o governo do PT decidiu fazer mudanças no Programa Fome Zero. Depois que a proposta de distribuição de cupons de alimentação foi intensamente criticada, sob o argumento de que os cupons servirão como moeda de troca para aqueles que precisassem de dinheiro, a equipe decidiu testar dois formatos de programa. Um dos projetos prevê que famílias carentes recebam um cartão para saque de R$ 50, mas o valor só poderá ser usado para compra de alimentos, comprovada por nota fiscal. Outra parte terá direito de escolher o que fazer com a quantia.

“Não há nenhum dogma e a decisão é seguir as características próprias de cada região”, afirmou Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “As duas medidas – cartão e dinheiro – serão provisoriamente adotadas e conferidas, para ver qual delas apresentará melhor resultado”, completou. A idéia do teste foi sugerida pelo senador Eduardo Suplicy (SP).

Ao participar hoje do Fórum Social Mundial, na capital gaúcha, Frei Betto contou que a pregação de Lula em torno de um pacto mundial contra a fome já começou a surtir efeito. “Recebemos a primeira contribuição estrangeira”, lembrou ele. “Um cidadão dos Estados Unidos enviou à embaixada do Brasil em Washington um cheque de US$ 25 para contribuir com o Fome Zero.”

Em pronunciamento feito no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o presidente propôs a criação de um fundo internacional para o combate à fome no Terceiro Mundo, constituído pelos países do G-7, os mais ricos do planeta. Frei Betto admitiu que a equipe do Fome Zero está “aprendendo” com quem já tem trabalhos de segurança alimentar.

Disse, porém, que as críticas ao projeto são precipitadas. “O programa não foi nem lançado, as pessoas nem conhecem o seu formato e já estão criticando”, afirmou o religioso, ao ser questionado sobre as divergências em relação aos cupons de alimentação e às notas fiscais. O bispo de Duque de Caxias, d. Mauro Morelli (RJ), e a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, consideraram “discriminatória” a exigência de condicionar o repasse de R$ 50 à apresentação de recibos.

Outra crítica ao Fome Zero – a ser lançado no dia 30 em Guaribas e Acauã, no Piauí – aponta para o assistencialismo do programa, que não daria às famílias pobres o direito de escolha do que fazer com o dinheiro. “Trata-se de um programa de inclusão social que tentará evitar ao máximo o assistencialismo. Mas pra quem está passando fome, assistencialista ou não, que venha a comida”, rebateu Frei Betto.  No primeiro semestre, o projeto vai beneficiar famílias de 959 municípios do semi-árido, abrangendo nove Estados do Nordeste, além do Vale do Jequitinhonha (MG).

Segurança

Questionado sobre a possibilidade de reforço na segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois da agressão sofrida pelo presidente do PT, deputado José Genoino (SP), Frei Betto disse que “neste caso a blindagem é muito difícil”. No domingo, Genoino foi atingido no rosto por uma torta de morango com chantilly ao defender a participação do presidente no fórum de Davos. “Existe um sistema de segurança bastante sofisticado em torno do Lula, mas, ao mesmo tempo, respeita-se a sua índole”, destacou Frei Betto. “Não dá para colocar uma camisa-de-força nem uma redoma em volta dele.”

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