Candidatos gêmeos

Tasso Jereissati, governador tucano do Ceará, confessa bigamia. O PSDB do seu Estado tem simpatias pela candidatura de Ciro Gomes, do PPS. Explica-se: Ciro foi prefeito no interior do Ceará, chefiou o poder executivo de Fortaleza e foi governador daquele Estado. É cria política do milionário empresário Tasso Jereissati, que pretendia ser o candidato do partido de Fernando Henrique Cardoso à Presidência. Perdeu, nas preferências da cúpula partidária e de FHC, para José Serra. À época, os meios políticos chegaram a duvidar que Jereissati declarasse seu apoio a Serra. Declarou-o, mas o empresta de forma dúbia, não escondendo suas simpatias por Ciro, filho político dileto, que até lançou à condição de ministro da Fazenda.

Jereissati conhece bem tanto Ciro quanto Serra. Aquele, por razões óbvias. Este, como correligionário e ex-adversário na disputa pela indicação do PSDB para a Presidência da República.

Conhece também, como político esclarecido, experiente e grande empresário, as coisas da administração pública e da economia. É mais capaz do que a maioria dos mortais eleitores de analisar as posições e propostas de cada candidato, excogitando as que são papo para impressionar eleitor e idéias e fatos factíveis.

Pois Tasso considera Serra e Ciro candidatos com propostas 99% iguais, quase gêmeos univitelinos. Diferem, é verdade, no estilo de enunciá-las. Ciro, por não ter compromissos com o governo FHC, pode dar às suas críticas coloração de oposição veemente, ao estilo Collor. Serra, mesmo discordando, tem de ser mais cuidadoso para não ferir o governante que até há pouco o tinha como ministro da Saúde. E que é seu companheiro e amigo pessoal há muitos anos, além de correligionário. A similaridade nas propostas dos dois candidatos, Jereissati vê em especial na área econômica. E não é de se estranhar, pois ambos têm formação acadêmica na área e pertenceram ao mesmo grupo político. Imaginar que Serra e Ciro difiram porque um é de um partido social-democrata e outro de uma agremiação herdeira do Partido Comunista Brasileiro também pode ser um engano. Serra tem uma história de político de esquerda. Até mais do que Ciro. Pertenceu à esquerda estudantil, foi presidente da União Nacional dos Estudantes, perseguido pelos militares após o golpe de 1964 e teve de exilar-se, juntamente com Fernando Henrique Cardoso.

Ciro era muito jovem àquela época. Como político, acompanhando Tasso Jereissati, integrou-se ao grupo de políticos-empresários progressistas, dos quais aquele era e é um dos líderes. Ao que se saiba, não tem história de militância de extrema esquerda, embora sua ex-mulher, também política, tenha sido membro do Partido Comunista.

A similaridade apontada pelo governador do Ceará é interessante de ser agora relembrada porque recente pesquisa mostra uma inversão de posições, Ciro assumindo o segundo lugar e Serra caindo para o terceiro, enquanto Lula continua isolado, porém cadente, no primeiro lugar. Não se trata do tanto faz. Cada um dos candidatos tem, mesmo com as similaridade de propostas, estilos diferenciados de enunciá-las e talvez também de implementá-las. A escolha, bem pensada e pesada, passou a ser na base da sintonia fina.

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