Candidatos analfabetos

A atividade política, seja no Executivo (prefeitos, governadores e presidente da República) ou no Legislativo (vereadores, deputados e senadores), exige um mínimo de escolaridade. Temos um presidente da República de baixa escolaridade. Mas ele, na escola da vida e da política, demonstrou com boa vontade e inteligência ser capaz de suprir os ensinamentos que não recebeu nos bancos escolares e transformar-se num homem público capaz de entender intrincados problemas de um gigantesco País e até de comunicar-se, senão com correção lingüística, certamente com coerência na formação de frases e construção de idéias.

Tal fato não justifica que o povo brasileiro tenha de engolir candidatos analfabetos ou que declarem, quando se candidatam, escolaridade que não têm ou têm insuficiente para exercer os mandatos pretendidos. Mesmo que tenhamos o voto do analfabeto, é de se esperar que seus representantes tenham o mínimo de conhecimento para buscar resolver seus problemas através do exercício da vida pública.

Não é lenda, mas fato: Quando o Rio de Janeiro era Distrito Federal e capital da República e abrigava uma Câmara de Vereadores, além dos poderes próprios de sede do governo federal, um vereador discursava propondo que, para incrementar o turismo na Lagoa Rodrigo de Freitas, fossem importadas algumas gôndolas de Veneza. Referia-se, é óbvio, àqueles barcos de passageiros típicos da cidade italiana. Um outro vereador, pegando o discurso já pelo meio, pediu um aparte e saiu-se com esta: “Para que gastar dinheiro importando uma porção de gôndolas? Não seria melhor a gente importar um casal de gôndolas. Daí, a gente poderia, no futuro, ter uma ninhada de gondolinhas, pois certamente o casal iria ter filhos”. Ele pensava que gôndola era algum tipo de ave.

Por exigência da Justiça Eleitoral, que tem tomado várias providências moralizadoras e aperfeiçoadoras das nossas eleições, candidatos a vereador, vice-prefeito e prefeito estão tendo de provar que têm a escolaridade exigida pela Constituição. O princípio é que não podemos ter políticos analfabetos ou pouco mais do que isso, incapazes de entender os mecanismos através dos quais podem representar o eleitorado. Também que não podemos ter políticos eleitos que praticaram o crime de falsidade ideológica, declarando que são o que não são. Se um candidato se apresenta dizendo ser alfabetizado e fica provado que é analfabeto, mentiu à Justiça Eleitoral e ao povo. Cometeu crime.

No mais, é hora de este País aproveitar seus melhores valores, ou seja, homens probos e preparados para os cargos públicos, pois senão, nunca sairemos da difícil situação em que vivemos, como subdesenvolvidos ou, no máximo, país em desenvolvimento. Não se trata de elitismo, de imaginar que para ser homem público no Brasil é preciso ser doutor em alguma coisa. Ao longo de décadas e até séculos, muitos doutores disto ou daquilo nos mantiveram no buraco. Mas o inverso, ou seja, colocar nos postos eletivos uma porção de ignorantes, não melhorará as coisas. Eles podem ser, além de ignorantes, também desonestos, como muitas vezes ocorreu com os doutores eleitos.

Faz bem a Justiça Eleitoral quando faz testes de escolaridade e barra os que não têm o mínimo de conhecimentos necessários para cuidar da coisa pública.

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