Camisetas à bangu

A expressão carioca ?à bangu? significa ?em grande quantidade?, ?a dar com o pé?. Coincidência ou não, existe uma fábrica de tecidos grande e muito famosa chamada Bangu. Mas as camisetas que agora protagonizam mais um capítulo do catálogo de escândalos que as CPIs investigam foram fabricadas ?à bangu? pela Coteminas, empresa de propriedade do vice-presidente da República, José Alencar. Sabe-se agora que o PT encomendou, em 2004, àquela empresa privada mineira nada menos de 2,75 milhões de camisetas de propaganda eleitoral. A encomenda totalizou cerca de R$ 12 milhões.

Como um dos maiores industriais do País, José Alencar não deve ter estranhado o negócio. Nem seu filho, que preside a Coteminas. Como político e companheiro de governo de Lula, seu substituto no comando da nação, além de ministro da Defesa, é que deve ter estranhado. Acontece que o PT deveria ter quitado a dívida em novembro e dezembro de 2004 e janeiro de 2005, mas até aquela época não pagou nem um tostão. Nem com dinheiro do caixa 2 nem do caixa 1, que nem se sabe se existiu e existe, pagaram a empresa credora, de propriedade de tão ilustre industrial e político.

Como no Brasil existem muitas empresas capazes de fornecer camisetas, mesmo sendo uma gigantesca encomenda, os compradores sabiam da relação política do vice com o presidente da República e ela pode ter influído na escolha do fornecedor.

A coisa ficou, desde então, na base do devo, não nego, pago quando puder, até que surgiu o escândalo do mensalão, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi afastado do partido e, depois, toda a sua direção nacional e os que assumiram simplesmente desconheciam o negócio das camisetas. A diretoria provisória, encimada por Tarso Genro, não cobrou nem foi cobrada. A nova direção do PT, eleita e tendo como presidente Ricardo Berzoini, também ignorou o negócio e o calote até que se descobriu que no dia 17 de maio foi feito um depósito de R$ l milhão, em dinheiro vivo, na conta da Coteminas no Bradesco.

A empresa tem tudo registrado direitinho e direitinho costuma agir, como declara tanto José Alencar, como seu filho, atual presidente da Coteminas. Já no PT, a primeira reação foi negar. Não depositamos nada e de nada sabemos, disseram os atuais dirigentes do partido de Lula.

O Bradesco, por sua vez, agiu dentro dos conformes. Deu ciência ao Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da Fazenda, que recebeu para depósito em sua agência 2374, na conta de número 55063-9, cuja titular é a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), maior indústria têxtil do País, a quantia de R$ 1 milhão. A empresa adicionou a informação de que quem foi ao banco com o dinheiro foi uma funcionária do PT.

Aí, caiu a ficha: o PT fez uma campanha milionária com recursos que jorraram pelo valerioduto e ainda tem dinheiro de origem não identificada. O caixa 2 era maior do que se pensava e há mais credores a esperar o dinheiro do PT. Foi uma campanha com muitos pagamentos e muitos calotes. E se consolem os que se sentiram politicamente caloteados por não verem cumpridas as abundantes promessas de campanha. Há os que sofreram calotes em dinheiro mesmo. E dentre eles está ninguém mais, ninguém menos que o vice-presidente da República, ministro e companheiro de chapa do candidato vitorioso do PT, José Alencar.

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