Caixa Econômica confirma que dispensará serviços da Gtech

A Caixa Econômica Federal (CEF) confirmou hoje que iniciará na segunda quinzena de maio a fase final do processo de implantação do novo sistema de processamento de jogos da gigantesca rede de 9.000 casas lotéricas, para dispensar de vez os serviços da multinacional Gtech e substituí-los pelos de quatro empresas escolhidas em licitação pública em 2005.

A mudança tecnológica, iniciada no final do ano passado, prevê a instalação de 25.000 terminais (3.000 a mais do que hoje) nas lotéricas existentes em 3.628 municípios – e 20.000 já estão funcionando. A previsão da Caixa, segundo nota distribuída hoje à imprensa, é a de que, uma vez concluída a modernização tecnológica, operacional e logística das lotéricas, os terminais do novo sistema processem cada transação na metade do tempo gasto pelos terminais da Gtech.

A fase de transição iniciada no final de 2005 termina dia 14 de maio, mas nem todas as máquinas antigas foram substituídas, o que exige uma prorrogação no prazo de conclusão da implantação do novo sistema. Por isso, no dia 12, a direção da CEF define um prazo para que se complete a substituição. A expectativa dos técnicos é de que isso seja possível em aproximadamente 90 dias.

Durante esse período, máquinas antigas e a rede de transmissão de dados da Gtech continuarão sendo utilizadas em lojas da Caixa em cerca de 2.000 municípios que não possuem agências bancárias. Esse sistema antigo será desativado gradativamente.

A relação tumultuada entre a Caixa e a Gtech, iniciada em 1997, é marcada por sucessivos denúncias de irregularidades. Os problemas começaram em 2.000, quando o contrato original com a multinacional é rescindido, e um novo contrato é assinado, mas sem licitação. A denúncia mais grave é a de que teria ocorrido pagamento de propina para a renovação do contrato por 25 meses, em maio de 2003, em manobra intermediada por Waldomiro Diniz, então assessor parlamentar da Casa Civil, e por Rogério Buratti, que foi secretário municipal em Ribeirão Preto (SP) quando o prefeito era Antonio Palocci, recentemente forçado a se demitir do cargo de ministro da Fazenda.

Segundo o subprocurador da República Moacir Guimarães Morais Filho, o governo e a CEF foram omissos ao não recorrerem, em 2002, contra liminar da Justiça que impedia a Caixa de abrir licitação para acabar com o monopólio da Gtech no setor.

A conclusão do processo de transição dará à Caixa o completo domínio da tecnologia e da gestão do processamento central das loterias. Pelas lotéricas são feitos home mais de cem tipos de operações, como saques, depósitos e pagamento de benefícios sociais, quitação de contas das concessionárias de serviços públicos, captação de apostas, apuração, rateio, repasse, pagamento de prêmios e contabilização das loterias federais. As empresas contratadas são responsáveis pela logística, insumos, máquinas, manutenção e telecomunicações.

A prorrogação por 90 dias a contar do dia 14 é necessária, segundo o diretor-executivo de Transferência de Benefícios da CEF, Joaquim Lima, para que a substituição de máquinas não ofereça riscos, pois o processo está atrasado por vários fatores, entre eles o tempo que foi gasto – até junho do ano passado – para a solução de recursos administrativos e judiciais impetrados por empresas que participaram da concorrência.

O processo de transição do sistema é complexo, pois envolve novas tecnologias, relacionamento com novos fornecedores utilização de novos tipos de papéis e bobinas, substituição de todos terminais, implantação de redes e de equipamentos (como antenas, racks e hubs) para transmissão de dados por satélite, rádio ou telefone. Exige ainda o treinamento de 45.000 funcionários e donos de lotéricas – e todo o processo tem que ser feito sem que seja interrompido o funcionamento do sistema.

Além disso, o novo sistema, segundo a CEF, é bem menos dispendioso. Até agora, ainda no processo de transição, os gastos já caíram quase pela metade. De acordo com dados da Diretoria de Transferência de Benefícios, os pagamentos à Gtech passaram de R$ 402 milhões por ano, em média, para R$ 230 milhões.

Isso foi possível, segundo o diretor Joaquim Lima, porque, pelo contrato de transição, o pagamento passou a ser feito por serviço prestado. "Até agora, a Gtech era uma espécie de sócia da Caixa. Ganhava uma participação no negócio", explica Lima.

O novo sistema é considerado por técnicos da CEF uma verdadeira revolução no processamento e controle das múltiplas atividades da rede lotérica, na qual são realizadas mais de 41 000 transações por minuto. Apenas em 2005, foram feitas mais de 3,3 bilhões de transações – 2,18 bilhões referentes a jogos. As outras operações, no total de 1,13 bilhão, correspondem a pagamentos de benefícios sociais, recebimentos de boletos, IPVA, saques, depósitos, recargas em telefones celulares e dezenas de outros procedimentos de natureza bancária, como o recebimento de nada menos do que 60% de todas as contas de energia elétrica, água e telefone pagas no País.

Ainda de acordo com a nota distribuída hoje pela Caixa, no processo de migração dos dados históricos de processamento das casas lotéricas, referentes ao período de maio de 1997 a dezembro de 2003, envolveu, durante um ano, 11 bilhões de operações,

correspondentes a 1,7 terabyte, o mesmo que 1,1 trilhão de caracteres (letras, números, vírgulas etc.).

A nota da CEF informa ainda que, para implantar o novo sistema, promoveu uma dos maiores processos de licitação da história da instituição, para definir os processos de captação e transmissão da rede lotérica, os serviços de processamento de dados das loterias e a integração/gestão do sistema internalizados pela Caixa. "O preço total estimado era de R$ 1,3 bilhão, mas, ao final de intensa disputa por meio de pregões, entre as empresas interessadas, a Caixa conseguiu as contratações necessárias por R$ 678.687.382, gerando uma economia R$ 705.112.536 em relação à previsão inicial de gastos", afirma a nota.

Informa, ainda, que a mudança está sendo feita, entre outros motivos, para "atender a determinação dos órgãos controladores e fiscalizadores (TCU, Ministério Público etc.) para que as loterias não ficassem sob o domínio de um único fornecedor externo."

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