Cabeças ameaçadas

A votação da reforma da Previdência proposta pelo governo ao Congresso desagradou a um número expressivo de deputados e senadores, inclusive do PT. Aos cooptados para votar com o governo, mesmo não sendo petistas, foram feitos agrados. Os mesmos de sempre: verbas de interesse eleitoral, nomeações, etc. Isso já acontecia nos governos passados, sob a condenação do PT. Naquela ocasião, o partido e sua bancada no Congresso fecharam questão e obrigaram os que eram contra a engolir até a taxação dos inativos.

Alguns dos que se rebelaram e não se curvaram, votando abertamente contra, o castigo foi a expulsão do partido. Foram expulsos os deputados Babá (PA), João Fontes (SE) e Luciana Genro (RS), além da senadora Heloísa Helena (AL). Os rebeldes defenestrados insistiam em que o PT seguisse as posições que historicamente pregou. Os demais rebeldes acabaram votando com Lula, por medo de um castigo tão severo quanto o imposto aos autênticos, considerados, por sua ortodoxia, como traidores.

A rebeldia agora se repetiu, e em dose bem maior. Na votação do salário mínimo, que o governo, o PT e a bancada do partido no Congresso fecharam em R$ 260,00 mensais, a proposta de Lula, rebelaram-se nada menos de nove deputados federais, a saber: Orlando Fantazini (SP), Paulo Rubem (PE), Maria José Maninha (DF), Mauro Passos (SC), Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP), Dra. Clair (PR), João Alfredo (CE) e Walter Pinheiro (BA). E, ainda, os senadores Paulo Paim (RS), vice-presidente do Senado Federal, o paranaense Flávio Arns e Serys Slhessarenko (MT).

Neste espaço, examinando os dois casos e a rígida disciplina imposta pelo PT, obrigando seus parlamentares a votar contra suas consciências e princípios e ainda contra o ideário da própria agremiação, previmos que, a seguir essa rigidez, o partido de Lula se esvaziará e ?o último a sair que apague a luz?.
Não punir esses que votaram por um mínimo maior seria usar dois pesos e duas medidas, consolidando o princípio de que ?aos amigos tudo, aos inimigos a lei?, como já dizia o político mineiro Benedito Valadares.

Por que não foram também expulsos, se foram tão ?infiéis? quanto os que votaram contra a reforma da Previdência? Certamente porque seu número é muito maior. O PT e o governo se esgarçariam se repetissem o duro e injusto castigo da expulsão. Mas, para confirmar que a disciplina partidária, ou seja, votar no que o partido manda e na forma como manda, não importa se contra as próprias consciências e ao contrário da pregação da agremiação, é lei, encetaram um processo que denominaram de discussão, para melhorar as relações desses parlamentares com a agremiação.

?Vamos fazer um diálogo porque o PT preserva a unidade de ação?, disse o presidente da legenda, José Genoino. Não se disse que desse processo possam advir expulsões. O que fizeram foi deixar uma espada sobre as cabeças dos que votaram em favor dos trabalhadores. Se em futuras votações de assuntos igualmente polêmicos, os ditos rebeldes não se curvarem, poderão ser expulsos. De qualquer forma, já foram congelados, pois não recebem mais nenhuma representação partidária nas comissões e outros órgãos do Congresso.

Esse ?processo de discussão? soa ridículo. O PT quer ficar grande, abrigar no seu seio mesmo os rebeldes e fingir que tem instrumentos de castigo capazes de mantê-los cabisbaixos e obedientes. Se não, esvaziam a casa, expulsando os rebeldes e o último que sair, apaga a luz. Algo como: ?Prefiro a morte do que morrer!?.

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