Consciência Negra

Vitória de Obama divide movimento negro no Brasil

A vitória de Barack Obama, nos Estados Unidos, tem provocado debates entre líderes do movimento negro no Brasil. O que se observa, no Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quinta-feira (20) com feriado em 358 municípios, é a existência de agudas divergências no meio deles. Dias atrás, num artigo divulgado pela internet, o advogado e jornalista Dojival Vieira, coordenador do Movimento Brasil Afirmativo, expôs essas diferenças ao escrever que quase tudo que Obama fez para chegar à Casa Branca soaria no Brasil como verdadeira heresia para a maioria dos líderes negros.

“O discurso ‘pós-racial’ de Obama não faria o menor sucesso e não teria o menor ibope, pelo menos entre nossos auto-proclamados líderes, porque para a maioria deles a raça continua constituindo a razão de ser do movimento”, disse. “Alguns flertam com a idéia de um Brasil birracial, ou seja: nosso papel seria superar a supremacia branca para afirmar a supremacia negra.”

Também pela internet, em um grupo de discussão, o cientista social Carlos Alberto Medeiros, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), criticou os termos usados no artigo de Vieira. “Travamos uma luta ideológica, e nossos inimigos jogam pesado no campo da chamada opinião pública”, afirmou. “Temos uma diversidade de posições e opiniões que merecem ser apresentadas e discutidas. Mas é preciso ter responsabilidade no uso das palavras, para que uma crítica interna não seja transformada em instrumento dos dominadores para enfatizar nossas divisões.”

Para o antropólogo Kabengelê Munanga, professor da Universidade de São Paulo (USP), Obama, ao apresentar e discutir temas centrais da sociedade, provou que tinha melhores condições que o concorrente para dirigir o país e pôs abaixo o mito da supremacia racial branca. “Num país onde 12% da população é negra, seria um desastre utilizar a bandeira racial. Mas também não funciona nem no Brasil, onde a população negra é bem maior. Tanto lá como aqui é preciso discutir a sociedade como um todo, sem negar a questão da racismo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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