Vale a pena seguir o FMI?

Historicamente, o FMI tem sido apoiado por aqueles que nele vêem a salvação do mundo, ou aqueles que percebem a sutileza com que os americanos, sobretudo, o utilizam como forma individual de manipulação das economias e, indiretamente, dos mercados.

É sabido e ressabido que no Brasil o FMI tem ditado, regido, manipulado e dirigido a economia. Seus técnicos, relacionados com a predominância dos fundos norte-americanos que fluem através desse organismo, usam e utilizam instrumentos recessivos, têm levado ao empobrecimento os países emergentes. Além disso, quando se fala em FMI, nunca se pode deixar de estabelecer uma relação direta entre ele e o Banco Mundial, sobretudo no papel que envolve as mudanças da ordem econômica mundial.

Os critérios que têm sido adotados pelo FMI, e aceitos pelos administradores dos países em desenvolvimento, à primeira vista parecem conduzir a economia desses países à melhoria das condições de vida dos seus povos. Os critérios são, geralmente, vestidos de uma roupagem tão sofisticada que faz o espectador ingênuo admitir que o receituário que ele prega é correto e adequado às necessidades dos países que lhe batem à porta para solicitar apoio.

Na verdade isso não é a realidade, pois tanto o FMI como o Banco Mundial têm levado o mundo a uma verdadeira desordem econômica interna, pois o que se vê é o acerbamento das precárias condições de vida dos países em desenvolvimento, quando seguem os receituários do FMI e do Banco Mundial.

Historicamente, no Brasil, várias vezes tivemos a intervenção do FMI e, somente no passado, levantaram-se vozes contra as políticas por ele adotadas e que resultaram no desastre que vivemos hoje, sem perspectivas definidas para o futuro do País.

Juscelino Kubitschek foi o primeiro a dizer não às indevidas intervenções do FMI em nossa vida e, posteriormente, tivemos dom Helder Câmara como maior opositor ao mesmo organismo internacional.

Em memorável manifestação realizada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, em 19 de agosto de 1983, o saudoso arcebispo de Recife e Olinda disse: “Se rejeitarmos a mediação do FMI virão terríveis represálias internacionais? Elas já vieram: já temos que pagar à vista o que precisamos comprar no estrangeiro… Represálias vai enfrentar a agiotagem internacional se o Brasil não trocar atitudes de medo e covardia por atitudes serenas e firmes de quem retoma seu destino nacional e internacional”.

Somando-se a essas vigorosas manifestações, recentemente, o Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph E. Stiglitz, em livro que está suscitando um grande debate em todo o mundo (A Globalização e seus Descontentes, Editora Norton, EUA), disse claramente que é nocivo o FMI, porque: a) sua política é eminentemente recessiva e b) ao adotar austeridade fiscal, altas taxas de juros, liberalidade do comércio e dos mercados de capitais, privatizações desordenadas e incutir o medo da moratória, nada mais faz do que abandonar a concepção original de Keynes de sua missão de ajudar os países a manter pleno emprego, enquanto esses países fazem os necessários ajustes em seus balanços de pagamentos. Ao revés, ainda segundo Stiglitz, o FMI recomenda políticas que aprofundam as desigualdades e aumentam o desemprego.

Em suma, o FMI não promove o crescimento econômico, que ajuda a aumentar a produção e, com isso, o número de empregos, acreditando que os mercados livres podem crescer por si mesmos e produzir riquezas.

Stiglitz, ainda, é contundente em dizer que o FMI só age em função de seus credores e pouco se interessa pelos países em desenvolvimento e que são majoritamente devedores, ajudando, sobretudo, a tornar mais ricas as elites já endinheiradas.

Finalmente, Stiglitz, com grande acuidade, mostra que, sendo o FMI o maior opositor aos programas de suprimento alimentar aos pobres, de modo particular quando os países têm problemas em seus orçamentos, nada mais faz do que atender à política dos seus administradores, que provêm de grandes organismos privados multinacionais da área financeira. E, quando saem do FMI e do Banco Mundial, vão trabalhar em governos ou empregos financeiros, como, no Brasil, temos os exemplos flagrantes do ministro Malan, do senhor Armínio Fraga e vários outros diretores, não só do Banco Central, como dos ministérios.

Fica claro que esses tecnocratas, quando estão no governo de um determinado país, não se interessam por resolver os problemas das nações, mas em fazer elucubrações financeiras em favor dos organismos internacionais, aos quais estão ligados epidermicamente.

Concluindo, não há menor dúvida de que o refrão de Malan, de que os contratos devem ser respeitados, são o produto da sua idiossincrasia aos pobres e submissão ao receituário do FMI e do Banco Mundial. Por isso, é necessário renegociar os contratos financeiros internacionais, se quisermos continuar a viver e pensar em crescimento econômico.

Jayme Vita Roso

, advogado, é conselheiro da Federação Interamericana de Advogados (FIA) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).E-mail: vitaroso@dialdata.com.br

Voltar ao topo