União vai tentar botar ordem no Espírito Santo

Brasília

(AG) – O ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, anunciou ontem que será deslocada para o Espírito Santo uma missão especial, composta por cinco delegados da Polícia Federal (PF), dois peritos criminais e 50 agentes, para reforçar a ação da PF no combate ao crime organizado no Estado. O grupo vai atuar por 90 dias, prazo que poderá ser prorrogado. Além da repressão aos crimes que sejam de competência da Justiça Federal, a missão também se empenhará em ações de inteligência.

O trabalho no Espírito Santo será semelhante ao desenvolvido no Rio de Janeiro, foi a alternativa que o presidente Fernando Henrique Cardoso apresentou para a intervenção federal no estado e vai contar com apoio da Polícia Rodoviária Federal e de outros órgãos, como Banco Central, Coaf – órgão do Ministério da Fazenda, que investigar casos de lavagem de dinheiro – , Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e Ministério Público Federal.

“Vou falar pessoalmente com o procurador Geraldo Brindeiro (procurador-geral da República) para pedir seu apoio em nossas ações”, afirmou Paulo de Tarso, anunciando também o reforço ao programa de proteção a testemunhas que tenham denunciado integrantes do crime organizado no Espírito Santo. O ministro disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso autorizou o aumento dos recursos destinados pelos ministérios competentes ao Pró-Vita, grupo de proteção a testemunhas que funciona em outros estados.

“Eu vou procurar também o governador capixaba, José Ignácio Ferreira, para contar a ele esta disposição do governo federal e pedir seu apoio para o combate eficaz ao crime organizado”, declarou, Paulo de Tarso. Outra medida, como informou, será a criação de uma delegacia especializada da Polícia Federal em São Mateus, Norte do Espírito Santo, que irá se unir a uma unidade já existente em Cachoeira do Itapemirim e à Superintendência Regional de Vila Velha. O ministro da Justiça pediu que as entidades dos direitos humanos acompanhem as ações realizadas pelo governo federal.

“É o início de uma cruzada contra o crime organizado. Não podemos perder o discernimento de que são necessárias medidas concretas de curto, médio e longo prazos”, finalizou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Orlando Fantazzini (PT-SP), calcula que deverão ser gastos R$ 1 milhão em 90 dias nas ações da força-tarefa federal no Espírito Santo. De acordo com ele, a exclusão da Polícia local das ações no estado “deve-se à suspeita de que ela esteja contaminada”. “Não podemos entregar o ouro ao bandido”, declarou Fantazzini. O deputado disse que a diferença do Espírito Santo para outros estados é que na sociedade capixaba o crime organizado está infiltrado no poder público, e em alguns casos, em situação de comando. “Inclusive no Ministério Público estadual, teremos que escolher a dedo os procuradores que irão atuar junto conosco”, afirmou.

Em relação à participação da Polícia Federal nas investigações relativas aos direitos humanos, Fantazzini considerou bastante natural. “Existem casos, como o narcotráfico, cuja atribuição de investigação é da PF. Além disso, o número de delegados e agentes da PF no estado é insuficiente para atuar nesse caso”.

Governo do Rio pede socorro ao mundo

Rio

(AE) – A governadora Benedita da Silva (PT) pediu ontem o apoio de representantes de 14 países fabricantes de armas de fogo para identificar as rotas utilizadas pelos traficantes. Os diplomatas receberam um relatório produzido pelo governo, segundo o qual os principais exportadores do armamento que chega às mãos dos criminosos no Rio são Estados Unidos, Espanha, Bélgica e Argentina. Depois do encontro, dez mil armas foram destruídas em frente ao Palácio Guanabara.

O relatório, produzido com base nos dados sobre 750 mil armas que estão no depósito da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE), dá conta das armas acauteladas no Estado, de 1950 a 2001. Os números mostram que 80% do total foi fabricado no Brasil – as principais marcas são a Taurus e a Rossi. Os Estados Unidos são os fabricantes de 6,6% das armas apreendidas; a Espanha, de 5,3%, a Bélgica, de 2,7% e a Argentina, de 1,6%.

Foram convidados para o encontro representantes de 23 países, mas só 14 compareceram. O cônsul-geral da Alemanha no Rio, Klaus Platz, defendeu o rastreamento das armas através da numeração. Ele ressaltou a importância de controlar os depósitos das Forças Armadas, de onde o armamento seria desviado para as quadrilhas. A Alemanha responde por 1% do armamento apreendido no Estado. Platz acredita que as armas alemães encontradas nas mãos dos bandidos do Rio são produzidas em fábricas da América Latina. Os representantes dos Estados Unidos e da Espanha se recusaram a falar sobre o assunto.

O diretor do Centro Regional das Nações Unidas para a América Latina, Péricles Gasparini, disse que o órgão está ajudando o Brasil a resolver o problema do tráfico de armas e a lutar pelo desarmamento da população.

As armas destruídas foram apreendidas em operações policiais durante o ano de 1997 (a destruição só pode ser feita depois de cinco anos). Um trator passou por cima de um tapete de armas dispostas em frente ao Guanabara, sede do governo do Estado, que depois seriam fundidas numa siderúrgica.

Em Bangu 3, tem de tudo

Rio

(AE) – Agentes do Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe) apreenderam ontem 22 telefones celulares, 25 carregadores, 15 papelotes de cocaína, uma picareta e um laptop na Penitenciária Serrano Neves, a Bangu 3, no Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio. A unidade abriga 400 presos. O governo federal já liberou verba de R$ 185 mil para a instalação de bloqueadores de celulares nas prisões, mas o governo ainda não definiu como serão contratadas as empresas que realizarão o serviço. A Secretaria de Estado de Justiça busca a via mais rápida.

A operação envolveu 100 agentes, em 20 carros, que vistoriaram a penitenciária de 8h30 até o meio-dia. Durante a revista houve tumulto, porque presos não quiseram deixar as celas. Um detento foi ferido com balas de borracha, disparadas por homens do Serviço de Operações Externas (SOE) do Desipe, segundo o diretor, Edson de Oliveira Rocha Júnior. Os telefones, os carregadores e a droga estavam escondidos em buracos nas paredes e no chão das celas. E o computador na oficina da prisão.

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