Trote violento persiste 10 anos após morte de calouro

Dez anos após a morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh durante um trote na Universidade de São Paulo (USP), a recepção violenta e abusiva aos novos estudantes continua pelo País. Na primeira semana de aula, cenas de alunos rolando no chão, sendo forçados a ingerir bebidas alcoólicas, sofrendo humilhações se repetem dentro e fora das instituições, sejam tradicionais ou novas. Um exemplo grave aconteceu em Leme (a 188 km de São Paulo), onde um aluno foi vítima de agressão física e entrou em coma alcoólico.

O estudante Bruno César Ferreira, de 21 anos, calouro do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Anhanguera Educacional, em Leme, acabou internado na Santa Casa do município, em coma alcoólico. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial da cidade. A polícia tem suspeitos, mas ainda vai ouvir a vítima e testemunhas. Por meio de nota oficial, a Anhanguera Educacional informou que é totalmente contra o trote violento. A Anhanguera Educacional se transformou em um conglomerado de instituições. A rede abriu seu capital na bolsa e passou por um processo de aquisições no último ano.

“Infelizmente, as instituições universitárias não querem abolir esse trote violento, enxergando o trote como sinal de prestígio”, diz Antonio Almeida Junior, professor da Esalq, faculdade de Agronomia da USP e conhecida por trotes violentos que duram o ano todo. “É muito raro ter punição. Elas falam que vão abrir sindicâncias, mas nunca dá em nada, ninguém é punido”, completa ele, que nos últimos anos tem se dedicado a pesquisar os trotes.

Segundo o professor, a tentativa de combater o trote na Esalq, onde calouros são humilhados, apanham, são levados para o mato e abandonados, dividiu a comunidade. A direção divulgou um comunicado proibindo o trote violento e impondo punições. Os alunos entraram na Justiça contra a decisão – e perderam. “Há pais que mandam os filhos para o trote, para receberem e darem, porque eles passaram por isso.”

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