Ordem de Beira-Mar fez a Cidade
Maravilhosa pegar fogo.

Rio – Ônibus e carros incendiados, lojas e edifícios residenciais atacados com bombas e granadas, tiroteios, assaltos, ruas bloqueadas por bandidos. O Rio de Janeiro viveu, ontem, um dia de terror, em que foi refém de ações coordenadas por traficantes em diversos bairros da cidade.

No incidente mais grave, 13 pessoas ficaram feridas em conseqüência de um incêndio criminoso que destruiu por completo um ônibus em Botafogo, na Zona Sul do Rio. A Polícia informou que o ataque foi realizado por dois homens, que atiraram coquetéis Molotov contra o ônibus. Em entrevista coletiva, a governadora do estado do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, responsabilizou a facção criminosa “Comando Vermelho”, que reúne, entre outros traficantes, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, pelas ações violentas registradas por toda a capital desde as primeiras horas do dia.

As ações, que teriam sido comandadas pelos traficantes de dentro do presídio Bangu I, foram realizadas quase simultaneamente. Supermercados foram saqueados e o comércio obrigado a fechar as portas em diversos bairros. Cerca de 20 ônibus e quatro carros foram atacados e incendiados, além de ter havido tiroteios em ruas e invasões de favelas. Seis pessoas foram hospitalizadas, vítimas da ação de marginais. A maioria das vítimas teve o corpo atingido por queimaduras.

O caso mais grave é de Auri Maria do Carmo, de 70 anos, que teve 30 por cento do corpo queimados. Ela estava no ônibus que foi incendiado na Rua São Clemente, em Botafogo. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, uma carta foi distribuída na noite de domingo por traficantes anunciando as ações criminosas. A governadora teria sido avisada. Seis pessoas já foram presas. Uma explosão ocorreu no conjunto de favelas do Complexo do Alemão. Não houve vítimas no incidente, segundo as primeiras informações da Polícia.

Outra granada foi lançada na Avenida Vieira Souto, no bairro nobre de Ipanema, mas, por sorte, não chegou a explodir. Outras três bombas caseiras foram detonadas na mesma avenida, à beira-mar. Vidros de janelas dos prédios ficaram estilhaçados. Uma outra granada foi encontrada em um prédio da região. Segundo a polícia, o material lançaria gás lacrimogêneo. Testemunhas disseram que os artefatos foram jogados por homens em uma moto.

Na Tijuca, Zona Norte, uma bomba explodiu em frente a um supermercado. Também não houve feridos. O estabelecimento chegou a ser saqueado. O comércio fechou em alguns bairros do Rio, por ordem de traficantes. Catete, Tijuca e Centro foram os locais mais afetados pelo terror imposto pelo tráfico. Em São Cristóvão, perto do Morro Tuiti, e na favela Barreira do Vasco, na Zona Norte, um grupo de homens também obrigou os comerciantes a fechar as portas.

No subúrbio do Rio, ônibus foram incendiados: dois em Manguinhos, um em Del Castilho, um em Rio Comprido e um na baixada fluminense. Na Zona Sul, também houve incêndios em carros no bairro de Botafogo.

Bastos quer Beira-Mar longe do Rio

Brasília

– O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, considerou ontem “inadmissível” a violência no Rio de Janeiro e defendeu a transferência do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que teria dado a ordem para as ações, segundo o governo fluminense, para um presídio federal. “Não acredito que ele saindo do Rio, se instale o paraíso no Estado, mas é uma das providências que o bom senso indica.” Thomaz Bastos colocou a Polícia Federal à disposição do governo do RJ e o secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, passou o dia discutindo estratégias com o governo estadual. A PF informou ao ministro que tumulto “foi obra do Comando Vermelho”. O ministro citou presídios de Brasília, Acre e São Paulo como possíveis locais para a transferência do traficante e causou polêmica. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal afirmou que se pronunciaria somente após um pedido formal.

No ano passado, quando a transferência de Beira-Mar chegou a ser cogitada, o secretário Athos Costa de Faria foi contrário, porque o traficante não havia sido condenado em Brasília e o presídio federal é exclusivo para presos em processo de extradição.

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