Telefonemas ligam José Dirceu ao dossiê

Depois de um dia de suspense, a Polícia Federal apresentou ontem ao país a pessoa ?conhecida e importante? apanhada no rastreamento telefônico dos envolvidos no dossiê Vedoin. Para a PF, foi o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, quem ligou para Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dias antes da prisão de dois petistas, num hotel de São Paulo, com R$ 1,75 milhão para compra do dossiê.

A oposição desconfiou imediatamente desta versão. ?É mais uma farsa do governo para dizer que o chefe da operação não é Lula?, acusou o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Para o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, o surgimento do nome de Dirceu é uma manobra para livrar imputações criminais contra Lula, a seu ver o verdadeiro mentor da armação. ?Isso mostra o tamanho do banditismo político desse governo, que não hesita em lançar mão de paus mandados para se livrar da lei?, afirmou.

O rastreamento alcançou 800 linhas telefônicas com as quais oito personagens centrais do dossiê Vedoin se relacionaram de 15 de agosto a 15 de setembro. Dias antes da prisão dos petistas, Lorenzetti ligou para Dirceu, que retornou a ligação. A PF não decidiu se vai convocar o ex-ministro para depor porque o surgimento do nome dele não é evidência de envolvimento com o crime investigado, segundo informou o delegado Diógenes Curado, encarregado do inquérito.

Curado entregou ontem à Justiça Federal do Mato Grosso o relatório parcial das investigações, com dez páginas. Ele pediu mais prazo e espera concluir as investigações em 30 dias. O rastreamento telefônico, incluído no relatório, mostra várias ligações do ex-presidente do PT e ex-coordenador da campanha pela reeleição de Lula, Ricardo Berzoíni, para os principais envolvidos no dossiê.

Conforme a PF, os usuários e proprietários dessas 800 linhas mantiveram contato naquele período com o grupo de petistas sob suspeita Freud Godoy, Hamilton Lacerda, Expedito Veloso, Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Gedimar e Valdebran.

A próxima fase do inquérito começa segunda-feira, com o depoimento do empresário Abel Pereira. Assessor do ex-ministro da Saúde Barja Negri, ele seria um dos operadores da máfia dos sanguessugas no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Negativa no blog

O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu negou que tenha participado na tentativa de compra do chamado dossiê Vedoin. Em nota divulgada em seu blog, Dirceu rejeitou seu suposto envolvimento no caso e afirmou que aguardará as investigações com calma. O ex-ministro refere-se à notícia de que seu número teria surgido num extrato telefônico de ligações e de que ele seria o ?personagem misterioso? que surgiu no episódio. ?Evidentemente não tenho nada a declarar, até porque não fui demandado por nenhuma autoridade?, disse Dirceu, e completou: ?Mas quero reiterar que não tive nenhuma participação no caso do dossiê, assim como não tive participação na campanha majoritária em São Paulo ou na campanha nacional?.

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