O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu hoje que a ocupação de terras pela pecuária de corte “é um problema” e afirmou que até o final de 2009 sua pasta vai apresentar as linhas gerais de um programa que tem o objetivo de conter o avanço da atividade em áreas de floresta, especialmente no Bioma Amazônico. “Desmatar cinco mil hectares para colocar cinco mil bois e criar dois empregos não faz sentido”, afirmou.

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Sem dar muitos detalhes sobre o programa, Stephanes disse que o Ministério da Agricultura tem mecanismos para fazer esse controle e sinalizou que a iniciativa conta com o apoio dos frigoríficos. Fontes do governo que participam da discussão sobre a proposta disseram que a ideia é fechar um acordo para que os frigoríficos recusem animais criados em áreas desmatadas ilegalmente. A iniciativa é semelhante ao compromisso firmado pela indústria da soja, que não compra grãos cultivados em áreas de desmatamento.

Stephanes lembrou que há outras formas de controle da movimentação de animais, como a Guia de Trânsito Animal (GTA) eletrônica e um sistema da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para monitoramento via satélite. Ele fez as declarações ao participar, em Brasília, da abertura de seminário em comemoração ao Dia Nacional de Conservação do Solo, comemorado amanhã. O ministro voltou a defender o fim da derrubada de árvores no Bioma Amazônico. “Se continuar, é incompetência geral da sociedade e da Nação”, alertou. Stephanes defendeu a recuperação de áreas degradadas, que, segundo o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, Márcio Portocarrero, somam 60 milhões de hectares em todo o País.

O ministro também falou sobre a legislação ambiental e reafirmou que o Ministério da Agricultura não participou, nos últimos 30 anos, das discussões sobre o tema. “Não há participação maior do ministério e o impacto (das regras) é muito difícil para o homem do campo”, disse. Para ele, não há motivos para proibir a atividade agrícola em áreas já consolidadas, especialmente no Paraná e no Rio Grande do Sul.

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Ele disse que o governo deve pensar em mecanismos que estimulem o cumprimento da lei ambiental. “Um pequeno agricultor de 10 ou 20 hectares que está na beira de um rio ou de um riacho tem renda de, no máximo, mil reais por mês. Ele está no limite da sobrevivência. Se ele tirar duzentos reais (referente a 20% da reserva legal) e dos oitocentos reais tirar mais duzentos reais para recuperar área, a atividade fica inviável”, contou. “Se isso acontecesse na cidade, daria uma greve”, completou.

Consciência ambiental

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Stephanes disse ainda que quem mais degrada o solo é a população urbana, não os produtores rurais. Para ele, os produtores rurais do Centro-Sul são os que mais têm consciência da necessidade de preservação ambiental. Em todas as regiões, lembrou, os produtores são obrigados a recolher as embalagens de agrotóxicos. Para ele, os produtores rurais são apontados como vilões da questão ambiental, o que não é verdade. “Muitos ambientalistas deveriam olhar para ver o que se faz na agricultura”, disse.

 

Ele lembrou que, ao contrário da pecuária de corte, os produtores de soja e milho são conscientes da necessidade de preservação ambiental. “A pecuária é um problema que precisa ser analisado de forma diferente, principalmente quando a ocupação da terra é baixa”, disse. A atividade agrícola, calculou, ocupa de 6% a 7% do território nacional.