Brasília
– Os secretários de Educação das prefeituras e governos petistas, reunidos ontem em Brasília, decidiram por unanimidade recomendar ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, não aceitar a proposta do senador eleito Cristovam Buarque (PT-DF) de desmembrar o ensino superior do Ministério da Educação (MEC).De acordo com o ex-reitor e prefeito de São Carlos, no interior de São Paulo, Newton Lima (PT), responsável pela coordenação do programa de educação do partido, a idéia de Buarque – de criar um ministério das universidades ou deixar o ensino superior a cargo do Ministério de Ciência e Tecnologia – não tem apoio de nenhuma das entidades ligadas à comunidade acadêmica por ele consultada.
“Da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) até a última entidade da sociedade que consultei, todas apontaram posição contrária à fragmentação do MEC”, diz Lima. Segundo ele, os próprios coordenadores da equipe de transição, Antônio Palocci e Luiz Gushiken, garantiram que “não haverá surpresa” com o ensino superior.
“Poderá um dia ser objeto de discussão na sociedade, mas não haverá esse tipo de reestruturação agora.” Outros integrantes da equipe de transição, entretanto, dizem que essa “é uma questão séria que vai ser discutida com devido cuidado.” Na verdade, os líderes do PT não sabem exatamente o que Lula pensa sobre o assunto, uma vez que, na semana passada, apesar da reação negativa à proposta manifestada pelos especialistas do PT na área de educação e ciência e tecnologia, o presidente eleito, durante um comício em Pernambuco, acabou praticamente confirmando Buarque no comando do MEC.
“Se o Cristovam for o ministro, vamos ter bastante dificuldade de negociação”, afirma um dos principais líderes do Andes-Sindicato Nacional, a entidade que congrega os professores universitários. Até mesmo entre petistas da ala moderada, há quem se oponha ao senador eleito argumentando que ele é “individualista” demais, e a divulgação de sua idéia de reestruturação do MEC acentuou as críticas internas.
O próprio Buarque admite que há muita resistência à proposta e sugere que, sem ela, não teria condições de fazer nada muito diferente do atual ministro da Educação. “Se a comunidade for contra, Lula não deve fazer isso, mas daí não vai haver muita diferença entre o atual e o futuro ministério”, avalia. De acordo com o senador eleito, que é ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), o ensino superior necessitaria de um ministro com dedicação exclusiva, com “obsessão” pelas universidades, enquanto outro pensaria apenas no ensino fundamental e médio.
Dificuldades
Para os demais petistas do setor de educação e ciência e tecnologia, porém, a superação das dificuldades do ensino superior exige sua maior integração, e não sua independência, em relação aos demais níveis de ensino.
Combate ao analfabetismo
Brasília
(AE) – O relatório que os secretários petistas entregarão a Palocci propõe ainda, como prioridade para o início de governo, que Lula lance o programa Analfabetismo Zero, a exemplo do Movimento de Alfabetização (Mova) adotado nas prefeituras do PT. A idéia é que o programa seja implementado paralelamente ao Fome Zero como um outro instrumento de cidadania e inclusão social.“Esse deve ser o programa de maior impacto para os cem primeiros dias de governo. Será uma espécie de Mova Brasil”, diz Lima.


