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‘Se o Estado faz vista grossa, virão tragédias’

Coordenador da Força-tarefa Rio Doce do Ministério Público Federal que apura o desastre de Mariana (MG), José Adércio Sampaio afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo ter alertado, desde 2016, que uma nova tragédia iria, inevitavelmente, acontecer no setor, uma vez que não há fiscalização independente nas barragens de rejeitos de minério.

O MPF já havia apontado risco de outras tragédias. Por quê?

Alertávamos que, se nada fosse feito, teríamos outras tragédias. Os parâmetros são muito abertos. Tanto que a barragem de Mariana, e a de Brumadinho, eram consideradas estruturas seguras.

Como são esses parâmetros?

Pela lei, a empresa descreve a barragem e identifica dois problemas. Um é o vício estrutural: chance de romper. Nas barragens de rejeitos de minério, o cálculo não dá muita segurança porque o maciço é feito do próprio rejeito. Se não houver monitoramento rigoroso, pode haver problema. Deve também apontar dano potencial. Mesmo se a estrutura é sólida, se houver tragédia é preciso identificar danos potenciais: se há muita gente na área, o nível de contaminação dos rios, solos. Em Mariana e Brumadinho, o risco estrutural era baixo, mas o dano potencial, alto. A lei exige que a mineradora, ou o auditor contratado por ela, declare que a barragem é estável. Em geral, contratam um auditor externo.

Mas o auditor não é confiável?

Sim, mas, em geral, ele faz cálculos com base em dados de monitoramento fornecidos pela empresa. Qual a falha? Podem ser dados filtrados. Nem todos os dados foram repassados aos auditores no caso da Samarco, por exemplo.

A estrutura continuou igual?

Sim. Erramos em 2015, mas podíamos ter mudado protocolos, procedimentos, fazer algo.

E os projetos de leis mais rígidos também foram barrados…

Bato muito nas empresas. Mas resolvi botar o dedo na ferida. Se o Estado continuar fazendo vista grossa, virão mais casos.

Qual é a explicação para isso?

Provavelmente lobby forte de empresas. E inércia do Estado.

Falta verba para a estrutura?

Não. Os royalties da mineração, que deveriam ser usados para estruturar a Agência Nacional de Mineração, têm sido sempre contingenciados. Não são usados para a finalidade que a lei prevê. Daria para comprar equipamentos mais sofisticados. Mas têm sido usados para reduzir o déficit das contas do governo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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