Se eu fosse presidente…

Foi o título inicial de um texto de 1994 quando se aproximava a primeira posse do atual presidente, Fernando Henrique Cardoso. Depois de Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco, apostava que alguma melhora surgiria de fato. Esperava-se que na saída não se repetisse na população a única alegria dos antecessores que seria o estado de espírito do “estamos livres” de mais um governo incompetente.

Veio a reeleição na base de golpe e compra de voto. Deputados foram cassados ou renunciaram aos mandatos. Alegavam que a reeleição permitira a continuidade das boas administrações. Esqueceram que o bom reeleito deveria continuar por quantos mandatos o povo aprovasse. São lógicas típicas do Brasil.

A violência cresceu. Só cresceu. Disparou, exagerou, tornou-se uma catástrofe. Criança queimada viva, pedaços de pessoas seqüestradas foram enviadas aos parentes; homicídio narrado ao telefone; uma megarebelião nos presídios de São Paulo; Prefeitura do Rio de Janeiro metralhada, policiais escondendo as fardas e sendo caçados, humilhados e assassinados como cordeiros por traficantes; descoberta de cemitérios clandestinos como na época dos coronéis, prefeitos de grandes cidades e servente de pedreiros sendo seqüestrados; gente serrada viva por deputado… Tudo isso coroado agora com a venda de habeas corpus a traficantes de droga por ministro do Superior Tribunal de Justiça e desembargadores federais. Resultou em números de assassinatos sem igual em nenhuma guerra no mundo.

Deputados cerrando gente viva; anões do orçamento sendo cassados; presidente do Senado mandando violar painel para bisbilhotar votos dos colegas; líder do atual governo chorando num dia pela violência contra sua honradez e noutro afirmando que tudo era verdade são alguns exemplos da política. Invenção do jornalismo chapa-branca, os “honrados” Chico Lopes, presidente do Banco Central, enfiou bilhões nos bancos Marka e Fonte Cindam; e Mendonça de Barros flagrado dizendo que estavam passando do limite da irresponsabilidade, num envolvimento de dinheiro das privatizações… Além de milhões de dólares nos ranários e outros projetos fantásticos, sem jamais devolver um centavo ao erário. Ficou provado que não vale a pena “desviar” dinheiro público neste País!

Filho de um ministro atropelou e matou um coitado, fugiu sem prestar socorro, acompanhado do pai, ministro; condenação: cesta básica. O país tem fome! Índio Galdino queimado vivo por boizinhos de Brasília; o garçom de Porto Seguro morto por boizinhos de Brasília. Prefeito de Campinas e Santo André assassinados brutalmente. Palace II matou oito pessoas e foi condenado a prisão livre. O Tribunal do Trabalho em São Paulo produziu Lalau e seus asseclas. Só o Lalau foi para prisão. Geísa Firmo Gonçalves foi assassinada ao vivo, e tudo que rendeu foi a descoberta do Presidente da República que a violência passava dos limites. Assassinatos coletivos como Eldorado de Carajás, Candelária, Morro do Vidigal, coroados com os 111 do Carandiru são parcos ocorridos na política de segurança pública e do funcionamento da Justiça brasileira. Deixe de lado as fugas e os indultos sem retorno dos bandidos. Está provado que pode ser a única, mas que a Justiça é implacável neste País!

Crianças catando comida nos lixões; em trabalho de 12 horas quebrando pedras; sendo molestadas por médicos e padres; sendo violentadas, surradas, morrendo e matando nas Febens; vendendo cocaína e empunhando armas nos morros; cheirando cola nas ruas e dançando peladas na TV são mostrados todos os dias, tão corriqueiros e grandiosos quanto negados e diminuídos pelas autoridades. Estes avanços renderam até troféu “social” ao governo federal pela Organização das Nações Unidas. Provado que a proteção não está só no papel!

Queimadas nas matas e nas favelas, os barcos do Norte afundando são as mortes rotineiras, com a coroação ficando por conta dos deslizamentos de encostas matando pobres e a culpa é de quem constrói e nada tendo a ver com quem deixa construir. É forma típica de fazer política brasileira. Está provado que as favelas diminuíram. Se continuar queimando, vão acabar!

A Educação e a Saúde são as áreas mais enaltecidas que a História registrará como os mais prósperos de todos os tempos do Brasil. Tenho exemplos na família para comprovar, mas não é relevante, de que nenhuma melhorou a não ser a Educação na quantidade de matrícula. Os alunos saem despreparados da mesma forma que entram na Escola. Não aprendem nada de consistente, não lêem nenhum livro daqueles exigidos nas faculdades públicas, que continuam abrigando apenas os ricos por pagarem escolas de ensino médio que ensinam. Os projetos públicos chegaram a diplomar cadelas e analfabetos ingressaram em Universidade particular no Rio de Janeiro. Apareceu gente na televisão fazendo propaganda do governo. Enalteciam o vale-educação de R$ 15,00. Nunca houve tanto investimento. Na Educação o governo foi aprovado.

Os desempregados crescem à medida que os vales-enganação vão se expandindo. Criam a ilusão de que estaria bem uma população sem emprego e salário que recebe migalhas de bonificação, exatamente pela falta de emprego. Ora, para quem tem fome qualquer pão seco é manjar! Nos últimos dias de governo, toda eficiência estaria na rolagem da dívida, nome que substituiu a falta de pagamento e deixa todo o mercado eufórico. Única figura vibrante com a falta de pagamento. Talvez seja a área econômica a mais aprovada pelos analistas econômicos.

Este é um dos dois brasis descobertos no governo atual.

Enquanto isso… o outro tem deputados e vereadores criando todo tipo de taxa para o povo já espoliado enquanto se autoconcede salário sob a alegação de que 8 mil mensais é pouco, apoiados pelo jornalismo chapa-branca que se esquece das verbas de gabinete, com certeza de pagamento legal a seus servidores e suspeitíssima de devolução ilegal e forçada ao chefe; quota de gasolina, auxílio-moradia, auxílio-paletó, telefone grátis, quota de postagem e outras regalias que não chegam aos ouvidos dos eleitores. No controle de gastos públicos o governo está aprovado.

Toda vez que ocorre um episódio se descobre que existe um Brasil ilegal. Totalmente ilegal. Crianças sem registro de nascimento, cafés para examinadores dos Detrans, motociclistas sem habilitação, delegados sem formação em Direito, calçadas desniveladas, terrenos públicos ocupados gratuitamente por particulares, gambiarras de iluminação e água certificam o Estado sem Lei. Cidades completamente pichadas e sujas atestam a ausência de governo e de autoridade. Alguns podem alegar que não são competências do governo federal, mas este é diretriz e tem sido aprovado por transformações culturais. Quanto à legalização do Brasil, aprovado o governo.

No texto passado citava inúmeros problemas que em nada diminuíram. Com toda a mídia enaltecendo o acerto do governo que sai. Um novo governo terá início dia primeiro de janeiro de 2003.

Se o jornalismo chapa-branca acompanhar com a mesma boa vontade que viu no governo FHC o melhor de todos os tempos até aqui, daqui a quatro anos Lula será reeleito, isso sem pieguice. Se acaso os problemas tiverem diminuído já seria um avanço; se continuarem iguais, alguns ficarão satisfeitos com a “diminuição da tendência de aumento”, isto foi uma pérola do secretário de Segurança de São Paulo sobre a melhoria na violência; se piorar, alguns dirão que poderia ter sido pior, pois as “projeções eram para números piores”. Essa pérola servia para justificar a falta de crescimento do Brasil. Ou seja, para o jornalismo chapa-branca, um governo bom ou ruim é mera questão de boa vontade do eleitor.

A imprensa não faz uma avaliação com números do governo que se vai. Será por quê?

Lula diz saber o que fazer. E prometeu que faria. Se vendeu ilusão conscientemente e por isso foi eleito, agora deve administrar as expectativas e para evitar que haja uma depressão coletiva. Por não reagir a nada como fazem argentinos e venezuelanos, o povo brasileiro se deprime, e essa acomodação é responsável direta pelo caos.

Que a prefeita de São Paulo não sirva de exemplo a Lula. No início, Marta chegou a comer no meio de mendigos; limpou literalmente a cidade. Mas todo mundo sabe que uma andorinha só não faz verão…

Confio no governo do Partido dos Trabalhadores, mas não pode governar como PSDB de segunda categoria, como fez na transição, ah, isso não pode! E a turma chapa-branca não terá a mesma boa vontade que teve com o péssimo governo FHC. Manso, mole, benevolente com os bandidos e desastroso em todos os aspectos, especialmente ético, para a sociedade. Os ministros voadores atestam!

Dentre tantas medidas, como a criação obrigatória de uma biblioteca em todas as escolas, mas se eu fosse este presidente, e isso tem que acontecer, acabaria com o recesso dos parlamentares e do Judiciário. Deputado, quanto menos trabalhar mais benefício traz, mas o do Judiciário é mais grave. Diante de tanta demora para julgar, proposital ou não, não se justifica que o Judiciário tenha duas férias. Além do mais, em todos os órgãos são pagas horas extras para servidores no período do recesso, cuja justificativa seria o descanso.

Infelizmente a saída de FHC nada difere das demais, apenas que a ansiedade é maior por ter ficado mais tempo no poder. E por ser irreal a melhoria que a mídia força à população. Vai-se o maior governo e fica a maior de todas as crises.

Pedro Cardoso da Costa

é bacharel em Direito em São Paulo, SP.

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