Rio de Janeiro (ABr) – No último dia 22 de julho, 890 policiais militares ocuparam a Rocinha, uma das maiores favelas do País e roteiro turístico para vários dos milhares de estrangeiros que visitam o Rio de Janeiro todos os anos. O objetivo da operação, segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, seria a prisão do homem apontado como líder do tráfico de drogas na comunidade. Erismar Rodrigues Moreira, conhecido pelo apelido de ?Bem-te-vi?, era o terceiro na linha sucessória do tráfico local. Assumiu o posto após a morte de seus antecessores, vitimados em conflitos que vêm acontecendo na área desde o ano passado.

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Apesar de todo o aparato policial, que inclui carros blindados e armas pesadas como fuzis de guerra, o bandido continua solto. O que seria uma ação temporária da polícia tornou-se uma ocupação permanente. Em meio ao fogo cruzado entre bandidos e a PM, a população do morro vive o dilema de conviver com o tráfico e lidar com a truculência de maus policiais.

Palavras de moradores da comunidade, especialistas em violência, representantes da sociedade civil, policiais e autoridades do governo do estado do Rio de Janeiro retratam o drama vivido pelos moradores da Rocinha, que, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população de 60 mil pessoas.

Os moradores citados na matéria foram identificados apenas com o primeiro nome (sem o sobrenome), a pedido deles mesmos, por temerem represálias de bandidos que vivem na favela ou dos próprios policiais.

Status de bairro

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Encravada em plena zona sul carioca, entre os bairros de classe média de São Conrado, Gávea e Leblon, a Rocinha ganhou da Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1993, o status de bairro. O título não garantiu a mesma infra-estrutura de seus vizinhos.

Segundo a Prefeitura, a Rocinha é um dos sete bairros com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de toda a capital. O IDH é um índice internacional criado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e classifica uma localidade em função de quatro variáveis: taxa de analfabetismo, taxa de escolaridade da população entre 7 e 20 anos de idade, renda per capita e esperança de vida.

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O desemprego na Rocinha atinge 17% da população e a renda familiar média mensal é de apenas R$ 209. A dificuldade de arrumar emprego é grande, e as oportunidades de estudo também não são das melhores. Doze entre cada 100 jovens e adultos não sabem ler e escrever. Em bairros vizinhos da favela, como o Leblon e a Barra da Tijuca, a taxa de analfabetismo é bem menor, de um entre cada 100. A escolaridade média dos moradores da Rocinha é de menos de cinco anos, ou seja, a maioria dos moradores deixa a escola antes de concluir a 5.ª série do ensino fundamental. O índice é o pior entre as 31 regiões administrativas da cidade do Rio.

De acordo com a Prefeitura, existem hoje 12 mil casas e 3,6 mil apartamentos no local, dos quais 60% têm acesso à rede pública de esgoto.

Moradores entre anseio e medo

Rio de Janeiro (ABr) – A Rocinha é normalmente policiada por um efetivo de 60 policiais, do Batalhão do Leblon, que mantém um destacamento na favela. Mas, desde o dia 22 de julho, homens da unidade de elite da Polícia Militar, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), passaram também a ocupar o morro, em uma operação especial para desarticular o tráfico de drogas na comunidade.

A presença dos policiais de elite dentro da favela, fardados de preto e fortemente armados, transforma o dia-a-dia dos moradores da Rocinha, que se dividem sobre a operação da polícia na comunidade.

Daniele, 23, trabalha fora da favela em uma empresa de organização de festas. Ela nasceu, cresceu na Rocinha e hoje tem uma filha de cinco anos de idade. A jovem concorda com a presença policial e acredita que isso pode ajudar na redução da criminalidade. O problema, segundo ela, é que os policiais não sabem lidar com os moradores.

?A maioria não respeita idoso, criança. Eles dão tiro, não querem saber quem está na rua, acham que é obrigação nossa saber quem é traficante e quem não é. Um dia, eu estava passando na rua da minha casa, eles me deram um tapa na nuca e me mandaram ir embora. Hoje, eu tenho medo de sair com minha filha de cinco anos na rua?, relata.