RJ e Bahia terão 3 dias de luto por morte de Caymmi

 

Em São Paulo

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, decretou luto oficial de três dias pela morte do compositor Dorival Caymmi.Até o início da tarde, a previsão era de que o corpo seria velado na Câmara dos Vereadores, no Centro. O enterro está marcado para a tarde de hoje no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Em nota oficial, o prefeito Cesar Maia lamentou a morte do “mais carioca de todos os baianos”. Em sua homenagem, a prefeitura dará seu nome a uma rua no Leblon, zona sul da cidade. “É uma pequena rua carinhosa. Ali ele estará junto de nós, sempre”, disse o prefeito

Caymmi morava no Rio desde 1938. Mudou-se em dezembro para o sexto andar de um prédio na Av. Nossa Senhora de Copacabana, de onde o compositor, que em tantas canções saudou o mar, conseguia avistá-lo. Segundo sua neta, Stella Caymmi, a mulher de Dorival, Stella Mares, venceu o pavor que tinha de elevador para dar ao marido o prazer de ver o oceano de casa. “Eles moravam no primeiro andar de um outro prédio em Copacabana, mas ele sentia necessidade de ver o sol e de ver o mar. Por anos, ele tentou convencê-la a se mudar”, disse a neta, que é filha da cantora Nana Caymmi.

“No réveillon, pela primeira vez viram os fogos de Copacabana”, disse. A viúva está internada desde abril com problemas cardíacos e há dez dias entrou em coma. A neta disse que ele ficou muito abalado desde a internação da mulher com quem viveu por 68 anos. “Os últimos dias do meu avô foram muito difíceis, porque minha avó, que ligava para ele todos os dias, parou de ligar e ele percebeu que alguma coisa havia acontecido. Nós decidimos não contar para ele sobre o coma.

Caymmi não sabia do câncer. “Apesar de passar pelos tratamentos, nunca disseram para ele que era câncer. Ele dizia que não queria saber o que era. Era uma atitude”, disse a neta. Segundo ela, ele não passou por quimioterapia ou radioterapia. Tratou-se com remédios por quase dez anos e ficou internado algumas vezes. A última foi no início do ano passado. Depois disso, por decisão do compositor, não voltou mais ao hospital e era assistido por um enfermeiro em sua casa.

No dia 24 de junho, Caymmi completou 70 anos de carreira. Foi a data em que estreou na Rádio Tupi. Para marcar o horário do enterro, a família aguardava a confirmação do horário da chegada de um dos seus filhos, o compositor Dori Caymmi, que mora em Los Angeles. Seus outros filhos são a cantora Nana e o compositor e intérprete Danilo. Dorival deixa ainda sete netos.

Stella contou que o avô era um músico “silencioso em suas composições”. “Minha avó sabia quando ele estava compondo. era quando ele se recolhia, ficava quieto. E ela nos dizia: `deixa o Dorival que ele está compondo’. Ele tinha uma relação muito boa com o tempo. Se uma música precisasse de dez anos para ficar pronta, ele esperava. Isso é uma sabedoria, ele sabia que não tinha como lutar contra o tempo.” Caymmi era, segundo Estela, muito ligado à família.

Ela conta que nos anos 50, quando ele passava as noites cantando em boates, não deixava jamais de tomar café da manhã com os filhos. “Ele chegava às 5h ou 6h, mas só dormia depois do café. Ele tinha um sentimento, que aprendeu dos pais, e que foi transferido para os filhos.

Na Bahia

O governador da Bahia, Jaques Wagner, também decretou luto oficial de três dias pelo falecimento hoje, no Rio de Janeiro, do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi, aos 94 anos. Por meio de sua assessoria de Comunicação, Wagner divulgou nota de pesar, solidarizando-se e colocando-se à disposição da família “para o que for necessário”.

“Caymmi é merecedor de todas as homenagens, por ser uma das principais figuras da Cultura na Bahia, no Brasil e no mundo, ao lado de Jorge Amado. Por suas músicas, que correram mundo nos filmes de Hollywood, na voz de Carmem Miranda e de outras cantoras e cantores, Dorival Caymmi tornou as belezas da Bahia conhecidas no cenário internacional”, diz a nota.

A matriarca da família Veloso, dona Canô, amiga do compositor, que no próximo mês completará 101 anos, também manifestou pesar. “Sinto muito a morte de Caymmi. Ele foi um grande homem e um grande músico, que muito contribuiu para divulgar a Bahia. Ninguém cantou tão bem a Bahia quanto ele. Que ele descanse em paz”, disse. Após 11 anos sem ir à Bahia, Dorival Caymmi esteve em Salvador há exatos dois anos, em agosto de 2006, quando, acompanhado pelo filho Danilo, recebeu o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte.

Ele foi escolhido por unanimidade em uma lista que incluía Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Milton Nascimento, João Gilberto e Roberto Carlos, entre outros. Caymmi foi o último laureado com o a premiação. “Eu não tenho razão nenhuma, nem condição de esquecer a Bahia. Eu adoro a minha Bahia”, disse na ocasião.