Relatório da CPT aponta aumento de trabalho escravo no Brasil

Em apenas um ano, o número de trabalhadores submetidos à condição de escravos aumentou 519%, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Enquanto em 2000 foram registrados 465 casos, no ano passado este número subiu para 2.416, e somente nos primeiros seis meses de 2002 já foram identificados 1.800 pessoas trabalhando em regime de semi-escravidão em fazendas. No relatório Conflitos do Campo, divulgado hoje, a CPT constatou que 29 pessoas morreram assassinadas em 2001, oito mortes à mais que no ano anterior.

Segundo o presidente da CPT, D. Tomás Balduíno, um dos motivos do agravamento dos conflitos no campo foi a política agrária do governo. O bispo também criticou severamente o Judiciário, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF), por não ter aceitado uma ação dos movimentos sociais para declarar inconstitucional a Medida Provisória 2.318, que considerou invasão de terra como crime. ?Antes o Judiciário era uma reserva, mas hoje vem se manifestando em favor do latifúndio?, afirmou D. Balduíno.

Trabalho escravo – O aumento do trabalho escravo é uma das maiores preocupações da CPT, principalmente no Pará, recordista de casos desta natureza e das mortes ocorridas no ano passado. Das 45 áreas onde existe escravidão, localizadas pelo Grupo Móvel do Ministério do Trabalho, 24 estavam naquele Estado  12 no Maranhão, três em Mato Grosso, duas em Tocantins e outras no Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.

?Uma das causas do aumento é o enfraquecimento do grupo formado pelo governo. Esta equipe merece todo respeito, mas sofre com a falta de recursos?, explica Antônio Canuto, coordenador do estudo da CPT. O Pará também continua sendo a região onde ocorre a maior parte das mortes no campo, segundo o levantamento da Comissão Pastoral da Terra, que registrou oito dos 29 assassinatos no Estado. Em Mato Grosso do Sul ocorreram três casos, outros quatro em Mato Grosso, dois em São Paulo, quatro em Pernambuco, dois na Bahia e Maranhão, um em Minas Gerais, Sergipe, Alagoas e Santa Catarina. ?A culpa disso é a impunidade no Pará. Um exemplo é o episódio de Eldorado do Carajás – quando 19 sem-terra foram mortos em confronto com a Polícia Militar – no qual ninguém foi para a cadeia?, diz o bispo. No Estado, em 11 anos, morreram cerca de mil pessoas no campo.

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