Raio causou falta de luz que atingiu 12 Estados

O apagão de anteontem reduziu em 13,4% a energia distribuída em todo o país e afetou o fornecimento em 12 Estados, informou hoje o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Segundo a reportagem apurou, o apagão foi causado por um raio que atingiu a linha de transmissão entre Emborcação e Itumbiara, em Goiás.

Passados dois dias, ONS e MME (Ministério de Minas e Energia) ainda não informaram oficialmente a causa da queda de energia – apenas que ela teve origem nas instalações da usina hidrelétrica Itumbiara, de propriedade da Eletrobras Furnas, devido ao desligamento das unidades geradoras da usina localizada na divisa entre Goiás e Minas Gerais.

Ficaram sem eletricidade mais de 3,5 milhões de pessoas em cidades de Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

O apagão suspendeu o fornecimento de 13,4% da energia do país. O Estado mais prejudicado foi Mato Grosso, com 66,6% de carga interrompida, segundo o ONS, seguido de Paraná (33,5%), Goiás (25,7%), Santa Catarina (24,9%), Acre (23,2%), Espírito Santo (20,0%), Rio Grande do Sul (19,6%), São Paulo (15,3%) Rio de Janeiro (15%), Mato Grosso do Sul (17,4%), Rondônia (12,3%) e Minas Gerais (10,6%).

Motivo

A reportagem apurou que o problema começou com um raio que atingiu a linha de transmissão entre Emborcação e Itumbiara. Disjuntores da subestação de Itumbiara desligaram a linha automaticamente. Cinco das seis turbinas da usina também foram desligadas.

O acidente provocou um efeito cascata em parte do Sistema Interligado Nacional, gerando o desligamento também de outras linhas de transmissão que conectam o país.

Milésimos de segundos depois do primeiro corte, as interligações entre o Norte/Nordeste/Centro Oeste com o Sul/Sudeste caíram, o que gerou a separação completa desses sistemas. Na tarde de anteontem, o subsistema Norte/Nordeste estava transferindo para o Sul/Sudeste uma carga de 5.000 MW médios.

O sistema que tenta isolar esses problemas de desligamentos, chamado de Erac (Esquema Regional de Alívio de Carga), entrou em operação e derrubou o fornecimento de algumas regiões para reequilibrar a demanda de carga e a geração. Foi preciso afetar doze Estados para reequilibrar o sistema.

Segundo o ONS, a suspensão do fornecimento de energia da interligação entre os sistemas Norte/nordeste/Centro Oeste e Sul/Sudeste foi interrompida, sendo religada minutos depois. Cerca de 30 minutos após a ocorrência, aproximadamente 50% da carga estava restabelecida. Uma hora depois, 90%.

Desatualizada

A usina hidrelétrica Itumbiara, responsável pelo apagão, operava com instalações desatualizadas, disse hoje o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner. “O arranjo da subestação é muito ruim, desatualizado.”

Hubner disse que a reguladora já pediu ao ONS (Operador Nacional do Sistema) um levantamento sobre a situação de outras subestações do país para verificar se o problema também ocorre em outras usinas geradoras.

“[Queremos checar] se há alguma subestação desse jeito, com desatualização em termos de arranjo. Desliga aquilo ali e cria uma situação de instabilidade no sistema”, disse.

Segundo uma fonte, o sistema de proteção da subestação, das linhas de transmissão e das usinas foram projetados na década de 1970. Apesar de receber manutenção, é antigo e não é mais usado nos sistemas de proteção instalados nas novas subestações.

O problema é que a substituição desses equipamentos implicaria no desligamento da subestação – e consequentemente da linha de transmissão – por um ano, pelo menos. Como Itumbiara é um dos pontos de conexão com o sistema de transmissão Norte/Nordeste/Centro Oeste, há preocupação em tirá-lo da operação.

 

Esse mesmo sistema obsoleto opera em outras subestações, também construídas na década de 1970, como Araraquara, Marimbondo e Cachoeira Paulista.

 

Investigação

Ontem, o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) realizou reunião extraordinária, com a presença do ministro Edison Lobão, para avaliar o problema.

Segundo informações do ministério, a falha provocou o desligamento de aproximadamente 8.800 MW de carga, sendo 50% na região Sudeste. A causa do apagão, no entanto, ainda não foi confirmada.

Equipes técnicas do MME, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e do ONS seguiram para Itumbiara para participar das análises sobre a falha no fornecimento de energia.

O ONS deve esclarecer ainda hoje as origens do apagão. Oficialmente, o MME considera o problema como uma “perturbação do sistema”.