Radicalização e invasões ameaçam o governo Lula

Brasília – A radicalização de movimentos populares como os dos sem-terra e dos sem-teto pôs o governo em estado de alerta. A Polícia Federal aumentou o efetivo de homens que monitoram estes movimentos. A avaliação no Palácio do Planalto é que as ações violentas ainda são fatos isolados e a situação, embora preocupante, está sob controle. Especialistas não pensam a mesma coisa. Eles temem que o governo esteja tolerante com a violência.

“É evidente que nós acompanhamos com preocupação todas manifestações que assumem caráter de violência. Não vamos aceitar isso. Todos têm que cumprir as leis. Existem fatos sérios, fatos graves localizados em alguns estados”, admitiu o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.

Mesmo assim o governo acionou seu aparato de inteligência para monitorar de perto as ações de grupos como o MST e seu braço urbano, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), responsáveis por uma onda de invasões pelo país que provocou enfrentamento com outros setores organizados da sociedade, como os ruralistas.

Perguntado sobre a possibilidade de a situação sair do controle e sobre quais ações o GSI está tomando para solucionar os conflitos, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, confirmou que está atento quanto à necessidade de uma intervenção mais dura do governo junto aos movimentos populares.

Apesar de manifestações de servidores públicos e as invasões de sem-teto e sem-terra, não serem cenas novas na política do país, cientistas políticos acreditam que a situação está ficando confusa. Eles atribuem o quadro ao fato de o presidente da República, o seu partido e o discurso de campanha terem gerado expectativa de soluções rápidas. O filósofo José Arthur Gianotti, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), acha que Lula ainda não aprendeu a governar. “É da natureza dos movimentos sociais praticar pequenas transgressões à lei. Mas a obrigação do governo é aplicar as leis e manter o estado de direito. O governo está se comportando como se fosse movimento social”, diz.

Para ele, uma agravante é a conivência com ilegalidades cometidas pelos movimentos populares: ele diz que o governo está deixando de cumprir a lei que proíbe a desapropriação de áreas invadidas e é tolerante com líderes que incitam militantes à violência. Para Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, “a sociedade brasileira apresenta baixas taxas de organização, de modo que todos os movimentos têm uma face mais ou menos incontrolável”. Marcus Figueiredo, do Iuperj, diz que o MST espera do governo Lula uma velocidade maior que a do governo FHC no social: “Essa velocidade não existe por causa da questão econômica e a legislação que dificulta o processo”.

Para Stédile, a culpa é da burguesia

Aracaju

– O líder do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse ontem, em Aracaju, que “a burguesia usa a mídia como grande partido ideológico e vive criando falsas tensões para que o governo não faça as reformas que se comprometeu em campanha”. Ele voltou a afirmar que não incitou a violência, quando convocou os sem-terra, no Rio Grande do Sul para “acabar” com os fazendeiros donos de áreas superiores a 2 mil hectares. Ele teria dito que “a luta camponesa abriga hoje 23 milhões de pessoas. Do outro lado há 27 mil fazendeiros. Será que mil perdem para um?”.

Stédile, que está em Aracaju desde a sexta-feira, participando das comemorações do Dia do Trabalhador Rural, disse que fizeram “uma tempestade num copo d´água” ao distorcerem suas declarações. Stédile afirmou que “estava fazendo uma análise de conjuntura, nunca preguei luta armada e defendo uma reforma pacífica”. Ele defendeu a análise da fita com as gravações das declarações que fez quarta-feira, em Canguçu, no Rio Grande do Sul, pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. Ele acha que essa será a chance de provar sua inocência. “Assim, os procuradores ficarão sabendo que eu não quis pregar a violência”, afirmou.

Ontem ele participou de um debate sobre a Alca, no auditório da Escola Técnica Federal de Sergipe, mas a imprensa não teve acesso. O evento foi promovido pelo Comitê Estadual Contra Alca em Sergipe, formado por integrantes de diversos movimentos sociais.

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