Radicais usam o Lula de ontem contra o de hoje

Brasília

– O presidente do PT, José Genoino, classificou de “provocação de extrema gravidade” a atitude do deputado João Fontes (PT-SE), que divulgou vídeo com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1987, com acusações contra seus atuais aliados, como José Sarney, presidente do Senado, e a Rede Globo. “Isso é inaceitável, nós não aceitamos isso e a bancada tem que avaliar a situação do deputado”, disse Genoino, acrescentando que nem o pior adversário de Lula, em suas campanhas eleitorais, adotou essa atitude.

Genoino disse que o PT repele esse tipo de ataque e João Fontes ultrapassou todos os limites. O que mais incomodou a cúpula do PT e parlamentares da ala governista, que se reuniram anteontem à noite até a madrugada, com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi que pela primeira vez um parlamentar da ala radical atingiu diretamente o presidente da República.

“Isso rompe qualquer contrato ético de convivência”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que participou do encontro. Segundo ele, isso demonstra que João Fontes e Luciana Genro (PT-RS) já têm decisão política de sair do PT e por isso Pimenta defendeu em reunião de coordenadores de bancada, o afastamento do deputado da bancada. José Genoino lembrou que antes de filiar-se ao PT, João Fontes era diretor da Companhia Energética de Sergipe, durante o governo do PFL e depois foi presidente do PL.

A reação da bancada petista foi imediata: a coordenação afastou, por tempo indeterminado, os deputados João Fontes e Luciana Genro). Na prática, isso significa que os parlamentares não poderão participar de nenhuma atividade da bancada, incluindo votações, encaminhamentos de propostas discursos e reuniões. Os deputados foram punidos por conta da divulgação da fita com discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 1987, criticando o então presidente José Sarney e a Rede Globo. A decisão ainda terá que ser submetida à bancada, instância na qual os dois deputados terão direito à defesa.

Será apresentado ainda uma denúncia contra João Fontes e Luciana Genro na comissão de ética do PT. No caso da deputada gaúcha, será a segunda denúncia já que ela está sob ameaça de expulsão por conta de seus discursos contra o governo. Também foi divulgada ontem nos meios de comunicação eletrônica entrevista de Lula em 20 de maio de 2002, quando candidato a presidente, em que ele diz que não iria mexer na aposentadoria dos servidores públicos que já trabalham no sistema. Lula, na entrevista, afirma que as mudanças na aposentadoria só poderiam ser feitas para as pessoas que ingressassem no serviço público após a aprovação da reforma da Previdência. “Quem vier aqui dizer para vocês que vai mexer (na aposentadoria dos servidores públicos) está mentindo”, disse. No texto que enviou ao Congresso após eleito presidente da República, Lula propõe mudanças também para os atuais servidores, como a taxação dos inativos.

Lindberg: se a Heloísa for, eu vou

Brasília – O deputado Lindberg Farias (RJ), um dos parlamentares do chamado grupo radical do PT, anunciou ontem, após se encontrar com a senadora Heloísa Helena (PT-AL), que pretende deixar o PT caso o partido expulse a senadora. Em entrevista ao lado de Heloísa, ele se disse constrangido pelo fato de que partiu dele o convite para que a senadora se reuniuse com o presidente do PDT, Leonel Brizola, no mês passado. A reunião, após a qual Brizola criticou o governo de Lula, está sendo usada como argumento pela Executiva do PT para expulsar a senadora. “Não posso deixar a senadora Heloísa Helena só, neste momento”, afirmou Faria. “Discordo de qualquer tipo de punição por delito de opinião. Me coloco junto a ela. A sanção que impuserem a ela é meu dever assumir. Se a expulsarem, estou fora.”

O deputado observou que, para ele, este é um momento muito difícil, pois esse gesto poderá ter “conseqüências terríveis” para seu futuro na política. “Não quero sair do PT”, afirmou, manifestando sua esperança de que sua solidariedade com Helena não seja entendida pela direção do partido como um gesto de provocação, mas sim de busca de um entendimento.

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