PT procura apoio, mas não abre mão dos cargos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo uma reforma ministerial para reduzir o tamanho do PT na Esplanada dos Ministérios. Mesmo que atinja esta meta, ainda faltará muito para que se crie um governo de coalizão, como tem prometido: no segundo escalão da administração pública, há uma concentração ainda maior de petistas no domínio dos principais postos em empresas estatais e nos cargos federais mais cobiçados nos estados.

O PT, que representa 27,7% dos votos governistas na Câmara, ocupa 64,9% desses cargos nos estados, preenchidos por indicação política. Enquanto isso, os partidos aliados, que garantem para o governo 72,2% dos votos na Câmara, nomearam apenas 35,1% dos cargos. No entanto, se depender do PT, os petistas não vão abrir mão dos cargos federais nos estados em favor de partidos aliados. Se quiser mesmo, o presidente Lula vai ter que comprar muitas brigas.

Os petistas não dão tanta importância às queixas dos aliados e sugerem que compensem seus parlamentares distribuindo os cargos das pastas que ocupam. ?Não é verdade (que os aliados têm poucos cargos). O PT compartilhou o segundo e o terceiro escalões com os aliados. Há lugares em que o PT reclama que há muitos aliados nos cargos?, diz o presidente do PT, José Genoino. Para contornar a insatisfação com a partilha dos cargos feita no início do governo Lula, Genoino sugere que eles usem as pastas que administram em Brasília para agradar aos deputados de seus partidos. Quanto aos cargos federais nos estados, Genoino diz que qualquer mudança precisa passar pelo partido.

?Temos que dar espaço aos aliados no Ministério. Agora, a substituição nos cargos federais nos estados tem de ser negociada conosco?, afirma Genoino.

Um dos homens fortes do chefe da Casa Civil, José Dirceu, o secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, defende as nomeações dizendo que elas consideraram a força dos aliados nos estados. ?Onde o PT é forte, a maioria dos cargos é do partido. Onde ele é fraco, a maioria é dos aliados?, diz Sereno.

Esta afirmação, no entanto, não corresponde à realidade em todos os casos. No Amazonas, por exemplo, onde o PT não elegeu um só deputado federal, foram nomeados petistas para a Delegacia Regional do Trabalho, o Incra, o Ibama, a Funasa, os Correios e o INSS. Só escapou o Dnit, ocupado pelo PL. Há outros exemplos país afora.

Fortalecer

Um levantamento feito pelo jornal O Globo mostra que o governo Lula usou os cargos federais para alavancar o crescimento eleitoral do PT. A partilha dos cargos não teve como critério, a exemplo do que ocorreu no governo Fernando Henrique, garantir a governabilidade no Congresso. A distribuição feita no início do governo petista esterilizou um dos instrumentos clássicos dos governos para formar maioria parlamentar.

Os aliados querem que nesses quase dois anos que faltam para a campanha da reeleição de Lula, o governo de coalizão exista de fato, com distribuição dos cargos de prestígio nos estados.

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