PT nega ligação com Farc e condena revista

O presidente do PT, José Genoino, reagiu ontem a reportagem da revista Veja, sobre a existência de documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informando que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teriam prometido doar US$ 5 milhões a candidatos petistas nas eleições de 2002.

São Paulo – Segundo a reportagem da revista Veja, publicada na edição que começou a circular neste fim de semana, a promessa teria sido feita em abril daquele ano durante um churrasco em uma chácara nos arredores de Brasília pelo padre Olivério Medina, qualificado pela revista como embaixador das Farc no Brasil. A revista informa não ter sido possível comprovar a doação ou o recebimento do dinheiro e nem a participação dos dirigentes do partido naquela reunião.

"É mais uma da Veja contra o PT", reclamou Genoino. "Suas conclusões são desconstituídas pela própria matéria e, portanto, o PT repudia com indignação essa tentativa insinuante de atacá-lo e duvida dos reais objetivos desse ataque, porque em 25 anos o partido tem posição inequívoca e pública contra atos de seqüestro e a favor do combate ao narcotráfico", disse o petista. "O PT sempre defendeu a democracia e os direitos humanos." A reportagem da revista chegou a ser comentada ontem, durante o churrasco oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Granja do Torto, a ministros e ex-jogadores que participaram com ele, pela manhã, de uma partida de futebol. Mas, segundo o governador do Acre, Jorge Viana (PT), que estava no encontro, não causou preocupação. "Todos estamos tranqüilos em relação a isso", disse o governador, que classificou a matéria de "café requentado". O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), assumiu uma atitude moderada em relação à reportagem. "A notícia requer uma avaliação mais detalhada e ainda é cedo para pedir que sejam tomadas medidas", ponderou. Goldman disse que poderá propor a presença do diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo de Lima e Silva, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, para que ele possa dar detalhes sobre o assunto. "Seria uma medida natural", observou. José Genoino afirmou desconhecer qualquer articulação de setores do partido com as Farc, e até mesmo que no partido haja simpatizantes da organização guerrilheira. "Eu nunca soube de nada, é só especulação e as pessoas citadas sequer são do PT." A revista informa que um dos presentes à reunião era o vereador Leopoldo Paulino, na ocasião secretário de Esportes do então prefeito de Ribeirão Preto, o atual ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Paulino foi guerrilheiro na Aliança Libertadora Nacional (ALN) e é filiado ao PSB. Jorge Vianna também ressaltou que o PT não tem relação com as Farc. "Agora, se um filiado, ou um brasileiro, teve, é problema para a polícia investigar. Se o PT identificasse algo parecido, essa pessoa seria expulsa do PT", disse. O líder da bancada petista na Câmara, Paulo Rocha (PA), disse não ter nenhum conhecimento do assunto, nem mesmo do discurso feito há dois anos pelo deputado Alberto Fraga (PTB-DF) solicitando uma CPI para investigar o caso. Fraga, segundo a Veja, foi abordado pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que questionou a existência de provas e comunicou a ele que o governo do PT pretendia processá-lo. Segundo a revista, Fraga blefou e assegurou ter testemunhas dispostas a depor em juízo. Os relatórios dos agentes teriam chegado ao então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Abin, general Alberto Cardoso. Além do general, a informação pode ter chegado ao ex-presidente Fernando Henrique, pois, segundo a revista "seu conteúdo tinha consistência suficiente para ser levado ao presidente da República".

Time de Lula e Sócrates vence por 4×3

Brasília – Em meio às pressões sobre a reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve ontem uma manhã de descontração, ao receber ministros, políticos e familiares para uma partida de futebol na Granja do Torto. Neste domingo, ele retoma formalmente os contatos para montar a nova equipe de governo e fará uma reunião com dirigentes do PT, que deverá abrir espaço para abrigar outros partidos aliados no ministério.

"Hoje (ontem) o presidente só opera como técnico do campo", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), ao chegar para o jogo, que reuniu Lula, ministros e os ex-jogadores Sócrates e Vladimir, ídolos do Corinthians na década de 1980, e Raí, além de familiares do presidente.Também participaram da "pelada" os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, do Trabalho, Ricardo Berzoini, do Esporte, Agnelo Queiroz, além do governador do Acre, Jorge Viana (PT).

O jogo durou 50 minutos e terminou em 4 a 3 para o time de Lula, que, no entanto, entrou em campo apenas nos 10 minutos finais. Apesar de ter se auto-intitulado "Demônio de Garanhuns", Lula não fez nenhum gol. Também fora de forma, Palocci foi outro que jogou pouco tempo.

Na avaliação de Mercadante, que chegou à granja acompanhado do ex-jogador Vladimir, mesmo quem deixar o governo continuará apoiando o projeto do presidente Lula para 2006, pois tem "compromisso programático, princípios e toda uma vida dedicada ao projeto". "E, como no esporte, não sai do time", disse. Todos os jogadores estavam vestidos com a camisa do Corinthians. Para se distinguir do adversário, o time de Lula jogou com um colete amarelo por cima da camisa. Na pose para os fotógrafos, apenas Lula estava de chapéu para se proteger do sol.

"É muito mais fácil jogar no plenário do que no campo", brincou o líder do governo. Segundo ele, Lula passará o fim de semana fechando as conversas para concluir a reforma ministerial na semana que vem. "Acho que estamos próximos ao desfecho", afirmou. Quanto à situação do vice-presidente José Alencar, que afirmou não ter perfil para continuar à frente do Ministério da Defesa, o líder disse que "em nenhum momento" ouviu falar em seu afastamento do cargo.

"Ele (Alencar) tem tido muito apoio e eu acho que foi uma bela solução", observou, para acrescentar que "quem de fato entende de defesa nacional são os profissionais da área". "Nós temos excelentes profissionais e as Forças Armadas receberam muito bem a indicação do vice-presidente", completou. Mercadante não poupou elogios ao vice-presidente, ressaltando ser "um homem público experimentado, um empresário de grande êxito com experiência administrativa, capaz de coordenar equipes".

Em relação à intenção da ex-prefeita Marta Suplicy de disputar o governo de São Paulo, Mercadante – que também é candidato – minimizou as declarações da petista. "Tem muito tempo até 2006 e estou convicto de que vamos construir um pacto de unidade e vamos estar juntos em 2006", acrescentou.

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