O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, disse hoje, em São Paulo, que é cada vez mais forte nas sociedades latino-americanas a reivindicação de combate primordial à pobreza e à desigualdade social.  Essa reivindicação, segundo o presidente do BID, é resultado do processo de consolidação da democracia. “A descentralização do Estado, o controle social da gestão pública, a crescente participação dos cidadãos na decisões e uma sociedade civil mais ativa estão enriquecendo o cenário histórico da região”, disse.

Iglesias fez essas afirmações durante a abertura do Encontro Internacional de Combate à Pobreza, que começou ontem (1.º) à noite e termina amanhã (3). O evento é organizado pelo BID, com o apoio de instituições da comunidade judaica latino-americana.

A questão do fortalecimento da democracia também fez parte das declarações do diretor do Instituto Interamericano de Desenvolvimento, com sede em Washington, Bernardo Kliksberg, assessor há quase 30 anos de instituições como as Organizações das Nações Unidas (ONU) e Internacional do Trabalho (OIT). “Há uma pressão muito forte por mudanças”, disse. “As pessoas querem mais ética, mais participação e sistemas democráticos cada vez melhores.”

Kliksberg disse que um dos principais desafios dos governantes latino-americanos é a péssima distribuição da renda. “Trata-se do continente com a distribuição mais desigual de renda em todo o planeta”, afirmou. “Essa desigualdade atenta contra a ética e é uma grande inimiga do desenvolvimento econômico. Sem renda, há poucos consumidores, o mercado torna-se pequeno; há pouca poupança interna; e as famílias põem os filhos precocemente no mercado de trabalho, o que atrapalha o desenvolvimento escolar e aprofunda as desigualdades.”

Lula

Ao comentar a decisão do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de dar prioridade ao combate à fome, Kliksberg, disse que ele tocou numa das questões cruciais da América Latina: “Um em cada três bebês, com menos de 2 anos, sofre com problemas de desnutrição. Recebem menos calorias e proteínas do que necessitam”.

Ontem à noite, na abertura do encontro, o professor José Graziano, coordenador do Fome Zero, disse que o sucesso dele dependerá em grande parte de estoques reguladores de alimentos, para evitar a especulação. Lembrou uma visita que fez com Lula a Israel, em 1993, quando pôde observar o elevado grau de organização daquele país na área de estocagem e distribuição.

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