Presidente do BC oculta dinheiro e é investigado

São Paulo

? A revista IstoÉ desta semana revela que os dois nomes mais importantes do Banco Central do Brasil, o presidente, Henrique Meirelles, e o diretor de política monetária, Luiz Augusto de Oliveira Candiota, estão sendo observados pelo Ministério Público e CPI do Banestado. Os dois são suspeitos de sonegação fiscal e outros crimes tributários.

O problema de Henrique Meirelles é que ele se enrolou na declaração do Imposto de Renda relativa ao ano de 2001. Sob o argumento de que morava no exterior, ele simplesmente não apresentou sua declaração, o que é permitido a não-residentes no Brasil. Mas o problema é que em 2001 Meirelles declarou à Justiça Eleitoral que já estava residindo em Goiás, cumprindo a primeira exigência para se candidatar a deputado federal nas eleições do ano seguinte. Meirelles, um homem de R$ 100 milhões, também apresentou versões diferentes de seu patrimônio à Receita e ao Tribunal Regional Eleitoral.

Quanto a Candiota, o problema dele é que não declarou movimentações financeiras em uma conta em Nova York. A dupla está sob a lupa do Ministério Público e da CPI do Banestado, que pode readquirir musculatura com a chegada de uma nova base de dados de um banco nova-iorquino utilizado como uma megalavanderia de dinheiro sujo vindo da América do Sul: o MTB Bank, sediado no coração de Manhattan, que tem milhares de operações bancárias sendo analisadas e trocou de nome para CBC depois de ser investigado nos EUA.

Este banco, o MTB, é um velho conhecido da polícia americana e toda a direção do banco já foi processada por envolvimento com lavagem de dinheiro. No Brasil, o banco também é conhecido. Por ele passaram as contas da White Gold (atribuída ao ex-prefeito Paulo Maluf) e movimentações do doleiro foragido Toninho Barcelona. É no número 90 da Broad Street de Nova York – endereço do MTB – que está alojada a conta de número 030172802 com uma movimentação financeira milionária utilizada pelo segundo homem na hierarquia do Banco Central, Luiz Augusto Candiota.

A conta tem como titular uma offshore (empresa cujo proprietário real é escondido) de nome Europa, com endereço na Plaza Independência, 822, Montevidéu, Uruguai, outro conhecido paraíso fiscal. Na conta no MTB Bank, existem movimentações registradas por Candiota desde 16 de dezembro de 1999 até 9 de abril de 2002 que nunca foram declaradas à Receita Federal. A lei exige que brasileiros informem, anualmente, bens, contas e movimentações financeiras no exterior.

Candiota movimenta US$ 1,2 milhão

São Paulo

– O diretor Luiz Augusto Candiota só prestou contas ao Leão do fluxo de dinheiro na conta corrente do Citibank no paraíso fiscal de Nassau, mas não informou a existência de dinheiro no MTB Bank nas declarações de renda entre 1998 e 2002. Entre 1999 e 2002, em 11 operações, a conta no MTB movimentou exatos US$ 1.290.845,50, o equivalente hoje a R$ 3,8 milhões. Oficialmente, Candiota informou ter enviado US$ 960 mil (R$ 1 milhão) entre 1997 e 1999 ao Citibank Nassau.

Nesse período, ele ocupou vários cargos em grandes bancos privados, inclusive o de diretor executivo do Citibank no Brasil. Em agosto de 2003, a propósito de remessas via CC-5 (de não-residentes no Brasil) para o Citibank no paraíso fiscal de Nassau, Candiota disse a revista IstoÉ que estava em dia com a Receita. “Todas as remessas que fiz são legais. Os recursos têm origem declarada. A conta também. Estou pronto para explicar todos os detalhes desses fatos aos foros adequados.” Procurado na quinta-feira, o diretor disse que não se manifestaria.

Em dezembro de 1999, quando Candiota atuava como diretor executivo do Banco Fibra em São Paulo, a movimentação secreta no MTB Bank recebeu US$ 100 mil (R$ 180 mil à época) vindos da Kundo S.A., uma offshore com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens e tocada pelo doleiro paranaense Alberto Youssef, preso e condenado no Brasil por sonegação fiscal. O dinheiro foi parar na conta 15114115, em nome de Candiota, no Northern International de Nova York. O valor e a conta não foram informados ao Imposto de Renda. A declaração do economista relativa a 1999 só registra uma conta no exterior, a do Citibank, além de depósitos em bancos no Brasil e outros bens.

No ano seguinte, em 2000, Candiota mantém suas transações no MTB longe das garras do Leão. No dia 29 de novembro daquele ano, a conta movimentou outros US$ 60,9 mil (R$ 115,8 mil à época). O remetente do dinheiro, segundo a base de dados do MTB Bank, é o próprio Luiz Augusto de Oliveira Candiota, residente à Rua Gregório Paes de Almeida, 974, Brasil. É o endereço de Candiota no Alto de Pinheiros, São Paulo. Em 2001, a atividade financeira foi mais agitada. São quatro movimentações que repetem o esquema anterior.

Meirelles contesta as denúncias

São Paulo

– Na última semana, dois procuradores no Distrito Federal abriram uma investigação que tem como alvo o presidente do Banco Central, o engenheiro Henrique Meirel-les. O patrimônio edificado por Meirelles desde o tempo em que ocupava cargos menores no BankBoston até atingir o posto de presidente internacional da instituição é invejável. A fortuna bateu na casa dos R$ 100 milhões entre bens e direitos no Brasil e no exterior. O principal problema identificado na análise das contas de Meirel-les em suas declarações de renda está no ano de 2001 até maio de 2002, período no qual ele não pagou impostos no Brasil, mesmo tendo uma extensa lista de imóveis, fazendas, aplicações e empresas em seu nome no exterior e no País. O patrimônio de Meirelles em 2001 somava R$ 105 milhões e poucos analistas acreditam que seus bens não geraram nenhuma renda.

No começo da noite de ontem, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que pode processar a revista IstoÉ. A nota diz que ele está “promovendo a adoção de medidas adequadas quanto à quebra de seu sigilo fiscal”. Quanto às denúncias, a nota diz que “o presidente Meirelles está certo de não haver irregularidade alguma sobre a sua situação fiscal, diversamente do que aponta a reportagem”. A divulgação da reportagem trouxe inquietude aos mercados brasileiros e contribuiu para a queda da Bolsa de Valores e a alta do dólar.

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