Após denúncia do jornal O Estado de S. Paulo, a Prefeitura de São Paulo informou nesta terça-feira, 26, que vai distribuir até o final de maio os uniformes escolares que estavam embalados e encaixotados dentro de um galpão na Grande São Paulo ao custo de R$ 15 milhões nos últimos dois anos. As peças vão ser entregues a alunos da rede municipal de ensino de regiões de vulnerabilidade social, segundo decreto publicado no Diário Oficial da Cidade desta terça.

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Os materiais pedagógicos ou de apoio já velhos, como provas e revistas antigas, por exemplo, vão ser encaminhados a ONGs e cooperativas até o final desta semana para reciclagem. A gestão Haddad oficializou a medida vinte dias após a publicação da reportagem.

No dia 6, a reportagem revelou que a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) estocava 156,5 toneladas de uniformes escolares, caixas com material escolar e 10 mil móveis da Secretaria Municipal da Educação herdados da administração passada e mantidos em um galpão em Guarulhos. Após a publicação da reportagem, o Tribunal de Contas do Município (TCM) cobrou a gestão e o Ministério Público do Estado (MPE) instaurou inquérito para investigar se houve desperdício de dinheiro público.

O decreto publicado nesta terça no Diário Oficial determina a distribuição de itens residuais dos uniformes adquiridos em anos anteriores e não utilizados aos alunos da rede municipal de ensino, “preferencialmente nas unidades educacionais localizadas em regiões de maior vulnerabilidade social”. A direção das escolas vai definir as famílias com o perfil fixado e comunicará às Diretorias Regionais de Ensino (DREs).

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De acordo com o prefeito, o decreto é necessário já que há “indecisão” dos gestores das unidades de ensino sobre a destinação de uniformes e materiais escolares não utilizados. “Diante da indecisão de técnicos que ficam inseguros em relação a isso, o decreto dá agora segurança para as pessoas agirem e fazerem chegar esse material à população. Embora não seja um volume tão grande, pode ajudar muitas famílias. A determinação que foi dada hoje dá conforto para os gestores buscarem auxiliar as famílias que mais precisam”, disse.

Haddad afirmou que o galpão em Guarulhos será mantido para manuseio de provas e material escolar, e não para armazenamento. O decreto vai permitir, segundo o prefeito, que os gestores decidam de forma “imediata” a destinação a uniformes escolares e materiais, “sem precisar passar pelos trâmites burocráticos tradicionais”.

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Segundo o secretário municipal da Educação, Gabriel Chalita, o decreto que regula estratégias foi criado após a Prefeitura ter diagnosticado “a quantidade de sobras de várias gestões” no galpão. “Houve uma decisão de pegar todo esse material e enviar para as escolas depois que a gente viu a quantidade que tinha lá, de várias gestões, várias sobras. O que estava lá de provas e revistas antigas vai ser reciclado”. Ainda conforme Chalita, uma sindicância foi aberta para apurar por que foi comprado material a mais e por que ficou por tanto tempo no galpão.

A Prefeitura informou que roupas, meias e tênis empacotados no galpão serão distribuídos de forma complementar aos kits dos alunos recém matriculados na rede e que, portanto, não substituirão os novos uniformes. Caso sobrem itens nessa primeira etapa de entrega dos uniformes, o decreto prevê que os itens podem ser transferidos a outras Secretarias e distribuídos a beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família.

Os itens com validade vencida deverão ser descartados em locais próprios ou entregues à reciclagem. Já o material escolar dentro do prazo de validade ficará sob responsabilidade das DREs, que poderão disponibilizar em caso de demanda.

O vereador Gilberto Natalini (PV), que inspecionou o galpão, pretende apresentar um projeto de lei para padronizar a indumentária na rede municipal. Em nota, o parlamentar lembrou que a Prefeitura manteve por mais de três anos quase 160 toneladas de uniformes e outros materiais guardados. “Além de pagar milhões para guardar tudo isso, a Prefeitura prejudicou os alunos que ficaram sem os uniformes, só porque foram feitos pelo prefeito anterior. Agora, depois que denunciamos a irregularidade, anunciam que vão distribuir os uniformes, mas em caráter complementar. Não faz sentido”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.