Durou menos de um dia a tentativa do artista plástico Fábio Delduque de mexer com a consciência do público, instalando árvores de Natal feitas com material reciclável, em Bragança Paulista, na região de Campinas, interior de São Paulo. Na manhã desta terça-feira, a prefeitura desmontou os enfeites que haviam sido instalados na tarde anterior. “Eu que sempre procurei promover a cultura e a educação por meio da arte tive hoje meu dia de artista rebelde censurado”, desabafou Delduque em uma rede social.

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Desde que foram instalados na rotatória do mercado municipal, os enfeites atraíram críticas dos moradores e também nas redes sociais. Internautas referiam-se às árvores como “monstrengos de lixo” e “pousada de urubus”. Os que assumiram os comentários foram mais ponderados, como Basílio Zechini Filho. “Como muitos disseram, pareciam restos de lixo presos em galhos após uma enchente. Talvez a proposta não tenha sido entendida. Arte é arte e tem de ser respeitada.”

A internauta Tina Leme Scott preferiu criticar a decisão da prefeitura de Bragança Paulista: “Retirar o trabalho foi uma atitude no mínimo arbitrária”. Comerciantes da região foram até o prefeito e disseram que “aquilo” chocava os turistas. O prefeito de Bragança Paulista, Fernão Dias da Silva Leme (PT), afirmou que levou em conta o clamor popular para retirar as árvores de Natal de material reciclável que enfeitavam a cidade. Por meio da assessoria de imprensa, ele relatou que as páginas da prefeitura e de várias secretarias receberam “uma enxurrada” de reclamações dos moradores. “A administração decidiu remover a mesma por causa da repercussão negativa por parte dos munícipes bragantinos”, informou a assessoria.

Segundo a prefeitura, o artista foi contratado e apresentou uma proposta condizente com o tema “Natal Sustentável”. O objetivo era reaproveitar materiais de decoração dos anos anteriores e evitar que fossem descartados no meio ambiente, de forma a gerar “economia” para o município. O empresário Fábio Coimbra, de 42 anos, aprovou a retirada, pois achou os enfeites de mau gosto. “Por mais que se fale em arte, aquilo não tinha nada a ver com o espírito do Natal.” Também houve quem se solidarizasse com Delduque. “O erro é a posição geográfica. Essa árvore de Natal deveria estar em Paris, Barcelona, talvez Amsterdã”, afirmou a artista Viviane Mendes.

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Um dos idealizadores do conceituado Festival de Arte Serrinha, Delduque disse que entendia as críticas e agradeceu aos que elogiaram o trabalho. “Minha cidade precisa abrir sua cabeça e enxergar outras perspectivas.” Em outra mensagem, ao ser informado da retirada dos enfeites, ele fez outro desabafo: “Comprar um monte de coisas chinesas prontas na 25 de Março não contribui em nada para nenhuma reflexão crítica e muito menos para a economia da cidade”.