Polícia sustenta a indústria do roubo

São Paulo

(AG) – De janeiro a abril deste ano foram roubados 23.609 carros na Grande São Paulo. Um carro, a cada quatro minutos. Cadernos encontrados nas oficinas de desmanches registram pagamentos que teriam sido feitos, regularmente, a homens da Polícia Civil. Um levantamento exclusivo sobre a indústria do roubo de carros, em São Paulo, mostra que as quadrilhas especializadas neste tipo de crime chegam a movimentar mais de R$ 1 bilhão por ano. Só na capital, são mais de 1.200 desmanches, muitos deles irregulares, que aproveitam o espaço para desmontar carros roubados.

Segundo a polícia, 20% a 30% dos veículos levados pelos ladrões abastecem o comércio ilegal de peças usadas. De acordo com uma portaria da Delegacia Geral, a fiscalização dos desmanches é obrigação da Polícia Civil, mas na região de Itaquaquecetuba essa função pode ter contribuído para um esquema de cobrança de propina.

O Ministério Público de São Paulo conseguiu, depois de uma operação em conjunto com a Polícia Militar, apreender uma agenda que revela o envolvimento de policiais com esta atividade. Nas anotações, o dono do desmanche relaciona várias despesas, entre elas pagamentos feitos para policiais e delegacias. “Provavelmente eles estariam recebendo algum tipo de benefício para deixar de tomar as providências que a lei exige”, afirma o capitão Eizo Tsuyama, comandante da PM de Itaquaquecetuba.

A agenda mostra que policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) de Mogi das Cruzes teriam recebido, em quatro meses, R$ 6,1 mil. Outras delegacias da região também podem fazer parte do esquema. Em Ferraz de Vasconcelos, policiais receberiam R$ 6 mil por mês, em Itaquaquecetuba, somando todos os pagamentos, R$ 3 mil. Um policial militar chamado “Segati” também consta nas anotações. O dono do desmanche teria dado a ele cerca de R$ 800 por mês.

Segundo o dono do desmanche, que não quis se identificar, o dinheiro seria para pagar café da manhã, almoço e festas. Moradores que vivem nas proximidades da rodovia Henrique Eroles, que corta as cidades de Mogi das Cruzes, Itaquaquecetuba, Poá e Suzano, onde há o maior número de desmanches na região, dizem estranham o movimento de policiais, na maioria das vezes, de São Paulo.

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