PNUD: novo índice foca valor humano do desenvolvimento

Lançado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de Valores Humanos (IVH) foi criado para traduzir em números a influência dos valores no desenvolvimento da sociedade. Serve como um complemento qualitativo do já consagrado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que em 2010 completa 20 anos. “A proposta é de trazer para a discussão a importância dos valores humanos para os processos de desenvolvimento”, afirma o texto do terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasil 2009/2010, do qual o IVH faz parte.

As dimensões de valores observadas no novo índice – saúde, conhecimento e padrão de vida – também fazem parte do quadro do IDH. Contudo, explica o PNUD no relatório, o IVH leva em conta “o relato das vivências dos valores das pessoas” e dá uma dimensão dos processos que mostram o porquê dos resultados do IDH. “O IVH não é um índice do indivíduo, com características restritas a um indivíduo, mas diferentemente, trata dos relatos, de vivências e de percepções dos indivíduos sobre como valores permeiam áreas do IDH.”

De acordo com Flávio Comim, economista do PNUD e organizador do relatório, enquanto o IDH foca resultados, o novo índice “desloca a atenção para os processos”. Além disso, é “um convite à discussão”. “O indicador sistematiza, expõe os problemas e fomenta discussões”, diz. “Dá mais dados que possam proporcionar a elaboração de políticas governamentais que tragam melhorias para essas áreas.” E além disso, afirma, o novo índice dá poder ao cidadão à medida que o papel da sociedade é também de exigir o cumprimento das políticas públicas pelos governantes. “É mais um instrumento que as pessoas podem utilizar para fazer cobranças e exercer sua cidadania”, explica.

O relatório do PNUD explica que, “quase sempre”, os documentos baseados em índices têm o objetivo de traçar recomendações para políticas governamentais. Uma meta fundamental, define a entidade, mas que não contempla “o poder das políticas com o cidadão, que são aquelas políticas que reconhecem a importância do engajamento dos indivíduos como agentes do seu próprio desenvolvimento”. Para Comim, o trabalho segue o princípio de fazer com que as pessoas participem da formulação de soluções. “Resoluções feitas de baixo para cima”, ilustra.

Por isso, 2.002 pessoas em 24 Estados brasileiros foram instadas a dar sua opinião pessoal a respeito do sistema de saúde brasileiro (público ou particular), sobre o que ele valoriza na educação e acerca das experiências de prazer ou de sofrimento no trabalho. Foram feitas perguntas para mostrar se o entrevistado achou o atendimento médico demorado, se ele percebeu interesse da equipe de saúde pelo seu caso e se ele compreendeu a linguagem utilizada no atendimento; se o conhecimento é importante para se conseguir um emprego, ser um bom cidadão, ter uma boa vida ou ser uma boa pessoa; e o número de vezes que passou por vivências boas e ruins no último ano na vida profissional.

Definição de valores

O assunto do terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasil 2009/2010 – “valores” – foi definido a partir das respostas de questionários enviados a 500 mil pessoas em todo o País durante a campanha Brasil Ponto a Ponto. Todas responderam à questão “O que deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade?” O PNUD, então, contratou pesquisa do Instituto Ibope para identificar os valores que os brasileiros julgam mais importantes, cujo resultado foi saúde, conhecimento e padrão de vida.