PM nega à Civil imagens de viatura de policiais suspeitos de morte no Rio

A Polícia Militar negou à Divisão de Homicídios as imagens da câmera do carro da PM em que estavam um sargento, um cabo e um soldado suspeitos do assassinato de um adolescente e de terem ferido outro, na Favela da Palmeirinha, na zona norte do Rio de Janeiro, em fevereiro.

Apesar da Polícia Civil ter solicitado as imagens e ter recebido “informações preliminares” da PM de que não houve registros de gravação no veículo, o Inquérito Policial Militar (IPM) que investiga a ação dos agentes usou justamente as imagens dessa câmera como uma das principais provas para indiciar o sargento Ricardo Vagner Gomes, tido pelo IPM como culpado do assassinato de Alan Souza de Lima, de 15 anos, e pelo disparo que feriu Chauam Jambre Cezário, de 17. Outros quatro PMs foram indiciados.

De acordo com o delegado Giniton Lages, que investiga o caso pela Delegacia de Homicídios, houve uma nova solicitação das imagens do carro, mas o “mais importante é o aparelho celular”.

O delegado se refere a uma gravação do celular de Alan, que acabou registrando a própria morte do rapaz e as vozes dos policiais, questionando porque eles haviam corrido quando os policiais chegaram à comunidade.

Inquérito Administrativo

No Inquérito Policial Militar, segundo publicado em Boletim Disciplinar Reservado (BDR) no último dia 25, foram as câmeras do carro 52-2507, onde o sargento Ricardo Vagner Gomes estava, que provaram aos investigadores que não havia confronto com traficantes no local, versão sustentada pelo policial para os disparos.

As imagens detectam também que o sargento fez, sozinho, onze disparos em direção a um grupo de pessoas que corriam. “Tais ações desqualificam a versão do Sargento Ricardo na qual meliantes efetuam disparos contra guarnição, provocando o revide a injusta agressão”, consta no BDR.

As imagens flagram ainda o sargento forjando as apreensões de duas armas, um revólver e uma pistola, apresentados à época na 29ª Delegacia de Polícia (DP) como pertencentes às vítimas dos disparos.

“Logo após, é registrada a imagem do Sargento Ricardo com a pistola na mão e recebendo um revólver pela janela da viatura, do lado da janela do motorista”, diz o texto do relatório da Polícia Militar. “Às 00h7, o Sargento Ricardo aparece entregando as armas, que em tese foram apresentadas na DP, ao Soldado L. Monteiro (que também estava no carro) dizendo ‘segura aqui Monteiro, vê se tá na câmara, tira, esfria essas armas aí’.”

Administrativamente, Ricardo Vagner Gomes além de perder o porte de arma e da carteira funcional da PM, responderá no Conselho de Disciplina da corporação por ter mentido aos investigadores sobre a quantidade e a motivação dos disparos e por ter forjado a apreensão de armas na ocasião.

O IPM conclui que há indícios que o sargento tenha cometido crimes do âmbito da Justiça Comum. “O graduado tinha como prever o resultado de suas ações e assumiu o risco de produzi-lo”, afirma o documento.

Outros quatro policiais também do 9º Batalhão (o tenente Paulo Rodolpho Batista de Oliveira; o cabo Carlos Eduardo Domingues Alves e os soldados Luis Gustavo Rodrigues Antunes e o soldado Allan de Lima Monteiro) serão submetidos ao Comissão de Revisão Disciplinar por terem entrado na comunidade sem permissão e por terem sido coniventes com a postura do sargento Vagner Gomes.

O inquérito da Polícia Civil também está em fase avançada, e deve ser concluído tão logo chegue à DH o relatório de peritos sobre a reprodução simulada, realizada na Palmeirinha na última quinta-feira, 25.

Entretanto, investigadores já estão convictos a respeito do desfecho do caso. De acordo com o delegado Giniton Lages, a reprodução ajudou a Polícia Civil a “conhecer bem o território, posicionar os personagens, calcular a trajetória dos disparos e checar a possibilidade de confronto com traficantes”.

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