PL mais atrapalha o PT do que ajuda no governo

Brasília – A aliança com o PL do vice-presidente José Alencar pode ter ajudado a garantir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas está dando dores-de-cabeça ao PT. No primeiro mês de governo, uma sucessão de problemas nas hostes do partido aliado deixaram petistas, radicais e moderados, em guarda. Logo na primeira semana, vieram à tona as suspeitas de envolvimento do ministro dos Transportes, Anderson Adauto, num esquema de corrupção na Prefeitura de Iturama (MG). Mesmo diante das denúncias, o presidente manteve Adauto no cargo.

O próprio vice-presidente José Alencar, principal razão do empenho de Lula para a aliança com o PL, acabou constrangendo o PT ao indicar parentes para seu gabinete. A medida foi revista assim que os jornais denunciaram. Somam-se a isso a corrida frenética para aumentar as bancadas na Câmara, patrocinando o troca-troca partidário antes da posse do Congresso, e os problemas nas alianças estaduais. No Espírito Santo, deputados do PL são acusados pelo presidente do PT estadual, João Coser, de trair o acordo que elegeria o petista Cláudio Vereza para a presidência da Assembléia Legislativa.

Segundo Coser, nos bastidores, os deputados do PL apoiaram a candidatura do ex-jogador da seleção Geovani Silva. A eleição de Geovani teve apoio de deputados ligados ao ex-presidente da Assembléia José Carlos Gratz, suspeito de envolvimento com o crime organizado no estado. Petistas que foram contrário à aliança afirmam que os problemas já eram previstos. “Quando você se alia a um partido, que, na verdade, é um ajuntamento de interesses, com uma doutrina ideológica muito distante da sua, evidentemente não se pode esperar céu de brigadeiro”, afirmou Chico Alencar (PT-RJ).

Para Chico, é preciso saber administrar as crises, que, por enquanto, estão mais no âmbito do PL do que no do governo: “Mas existe um patamar para além do qual a gente não pode ir: o limite ético da probidade, do interesse público”. O presidente do PT, José Genoíno (SP), prefere não fazer comentários sobre os problemas que a aliança traz para o partido. Segundo ele, embora haja problemas regionais, como o caso do Espírito Santo, nacionalmente a relação vai bem.

“Tenho conversado com o ministro Adauto, com Valdemar, com bispo Rodrigues, com Alencar. Nossa relação está boa”, disse Genoíno, numa referência ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e ao deputado bispo Rodrigues. Um dos representantes da ala radical, Lindberg Farias (PT-RJ) acredita que os problemas eram previsíveis e critica o fato de o PT estar trabalhando pela ampliação da base. “Que haveria problemas com o PL a gente sabia desde o início. Mas o negócio agora é maior, incluindo o PTB. E pelo tratamento dado a esses partidos, fica a impressão de que foram enfeitiçados pelos novos aliados”, disse Lindberg.

Costa Neto responde todas as críticas. Sobre o ministro dos Transportes, argumenta que nenhuma denúncia foi comprovada e que o fato de Lula mantê-lo no cargo é prova disso. O presidente do PL admite os problemas no Espírito Santo.

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