Pelo terceiro dia seguido, um incêndio atingiu a Favela do Gato, na região central de São Paulo. Por volta das 18h de ontem, 18, o fogo destruiu barracos que já estavam vazios e ninguém ficou ferido. A área foi desocupada no sábado, 16, após uma reintegração de posse. Dois focos de fogo, no fim de semana, abalaram a estrutura da Ponte Orestes Quércia, a Estaiadinha, que passa por cima da comunidade e da Marginal do Tietê. A via ficará interditada por prazo indeterminado.

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O incêndio de ontem aconteceu enquanto era realizada uma assembleia para definir para onde iriam as famílias que ficaram desabrigadas após a reintegração. Nem o Corpo de Bombeiros nem os líderes dos sem-teto souberam informar a causa do fogo. Duas faixas da pista local da Marginal do Tietê, no sentido Ayrton Senna, foram interditadas. Às 19h30, a lentidão era de 6 quilômetros, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Até as 21h, as faixas ainda estavam interditadas. Ninguém ficou ferido.

A assembleia dos moradores aconteceu na frente do Detran, na Avenida do Estado, onde cerca de 345 pessoas de 160 famílias estão acampadas. Eles prometiam fechar a Marginal, mas desistiram do protesto porque o líder Guilherme Boulos, de 29 anos, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), teria recebido um telefonema da vereadora Juliana Cardoso (PT). Ela teria dito que conversou com o prefeito Fernando Haddad (PT) e que negociaria com os moradores. A assessoria da vereadora não confirma a informação.

“Esperamos um acordo justo para todos, com todos os termos negociados descritos em um documento”, afirmou Boulos. Segundo o líder dos moradores sem-teto, Juliana prometeu comparecer ao acampamento na manhã desta terça-feira, 19, na companhia do secretário de Habitação, José Floriano de Azevedo Marques Neto. A expectativa é de que os moradores recebam agora R$ 900 e bolsa-aluguel de R$ 450 a partir de janeiro até conseguirem uma casa. Se não for fechado um acordo, os sem-teto ameaçam fechar a Marginal hoje à tarde. A assessoria do secretário não foi localizada.

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Dificuldades

“Estamos nos virando do jeito que a gente pode”, diz Josiele Oliveira Santana, de 18 anos, que está em uma barraca com o filho de 3 meses. O seu lar é o berçário do acampamento, com três carrinhos de bebê. Sua irmã, de 15 anos, tem um filho de um mês e meio. Uma outra irmã, de 26, tem mais seis filhos. Ao todo, são 12 pessoas na barraca.

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De acordo com técnicos da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana de São Paulo (Siurb), que vistoriaram a ponte na manhã de ontem, seis cabos de sustentação e sete suportes de borracha que travam os estais debaixo da pista foram queimados. Inaugurada em 2011 pela Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), empresa do governo estadual, a obra custou R$ 80 milhões e ainda não há orçamento para a recuperação dos estragos.

O primeiro incêndio que causou os danos ocorreu no sábado durante a saída voluntária das famílias que ocupavam havia seis meses o terreno municipal. A reintegração de posse começou pacífica, mas ficou tumultuada quando houve um foco de incêndio. Moradores corriam às pressas com eletrodomésticos e os largavam no meio da pista local da Marginal.

As três ocorrências ainda não foram esclarecidas. Os sem-teto acusam os PMs. Já agentes da Prefeitura dizem que o fogo foi uma ação de protesto dos moradores. O caso foi registrado no 2.º Distrito Policial (Bom Retiro). Na quarta-feira passada, os moradores fizeram um acordo para deixar a área e, das 450 famílias cadastradas, aproximadamente 80 estão no Detran.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.