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Paulistano ajuda a criar lagos em aldeia indígena no Jaraguá

A relação do permacultor e ambientalista paulistano, Adriano Sampaio, de 47 anos, com a água, vêm da infância, do tempo em que passava férias na casa dos avós, na cidade de Jacobina, no interior da Bahia. O rio mais antigo em sua memória é o Rio do Ouro, cujos fundos da casa dos avós, dava para o leito do rio. “O primeiro laguinho que fiz foi por lá. Desviei um pouco o curso de água e fiz um caminho no quintal de meu avô”, ele recorda. De lá pra cá, muita coisa mudou, menos o desejo de estar em contato com as águas, estejam elas onde estiverem.

Na adolescência, na companhia de seu pai, Valter Miranda Sampaio, fazia pescarias por rios selvagens de cidades como Juquitiba e Miracatu, em São Paulo frequentava a represa de Guarapiranga. A vida adulta veio rápido e ocupações para sobreviver que nada tinham a ver com meio ambiente foram realizadas por ele. Algo lá no fundo porém, o incomodava. Tinha sonhos recorrentes envolvendo água. “Parece estranho o que vou dizer, mas creio que foi um chamado mesmo. Tenho uma missão espiritual envolvendo esse elemento.”

Morador do bairro da Pompeia, na zona oeste, próximo a praça Homero Silva, ele percebeu que o local possuía diversas nascentes, cuja água se esvaía em meio à canalização urbana. “Em 2013, em parceria com um amigo e mais alguns moradores da região, criamos o coletivo Ocupe & Abrace que existe até hoje, e fizemos um lago na praça, onde colocamos algumas espécies de peixes e plantas aquáticas.”

A movimentação em torno do tema foi tão grande que hoje é difícil alguém conhecer a praça pelo antigo nome. Ela foi carinhosamente rebatizada, de modo informal, como praça da Nascente.

Em 2014 mudou-se para a Vila Clarice, próximo ao Parque Estadual do Jaraguá e ao território indígena dos guaranis, na zona noroeste. Começou a frequentar as aldeias e logo fez amizade, em particular com os índios da aldeia Itakupe, onde moram cerca de 15 famílias. Por lá existe um rio, o Ribeirão Manguinho, que por conta de desmatamento e plantações de eucaliptos próximas de suas nascentes se encontrava assoreado.

Suas águas, no entanto, permaneciam limpas. “Mal dava para saber exatamente qual o percurso do rio, que estava tomado por capim e taboa, vegetação que cresce em locais alagadiços”, conta ele. Com relatos de indígenas mais antigos na região, iniciaram a retirada dessa vegetação e começaram a cavar o espaço para a construção de um reservatório. Na verdade três: “A ideia é construir um primeiro lago mais acima para conter o assoreamento dos outros dois abaixo. No meio, o principal deles, iremos colocar peixes, e no último, mais abaixo será o lago para as crianças e jovens se banharem nos dias quentes de verão”, explica.

Muitos mutirões envolvendo os indígenas e voluntários foram feitos, usando técnicas ancestrais. “O pessoal entrou na lama mesmo, alguns com enxada, a maioria cavando na mão”, diz Sampaio. Uma vaquinha virtual foi feita com o objetivo de arrecadar verba para a compra de peixes, como lambaris, pacus, tambaquis e tilápias; além dos peixes, plantas aquáticas como ninfeias e outras também serão compradas para ajudar no ecossistema local. A meta para a arrecadação foi batida antes do fim do prazo e os peixes devem ser comprados e colocados no lago no início de abril.

No Dia Mundial da Água, Sampaio nutre o sonho de construir outros lagos pelas aldeias próximas a Itakupe. “Gostaria que o poder público olhasse com mais carinho essa área, tão carente de atenção. Existe um rio mais abaixo, o Ribeirão das Lavras, que banha outras aldeias, e que está totalmente poluído.”

Ele diz, no entanto, que é possível reverter a situação utilizando técnicas da biotecnologia, como por exemplo, os jardins filtrantes, onde são colocadas plantas que extraem, fixam e tratam os poluentes. “Esse local é uma espécie de portal, onde esquecemos por algum momento que estamos numa cidade com o tamanho de São Paulo. Temos de ajudar a preservar isso de alguma maneira”, finaliza.

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