Partidos latino-americanos admitem a falência

São Paulo – Representantes de 75 partidos políticos da América Latina fizeram ontem, em São Paulo, um meaculpa, ao reconhecer que essas legendas são hoje sinônimo de “descrédito” e “desconfiança” em todo o continente. Ao citar pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgada no início do ano, indicando que a maioria dos latino-americanos preferiria viver em regimes autoritários a numa democracia, contanto que as economias fossem estáveis, o presidente do Parlamento Latino-Americano (Parlatino), deputado Ney Lopes (PFL-RN), disse que as siglas precisam cumprir o papel de instrumentos permanentes do desenvolvimento e não só em períodos de eleição.

“Hoje, existem siglas de aluguel e coligações sem representatividade, em função de troca de cargos e benesses, razão pela qual os partidos se transformaram em verdadeiros mercados persas”, disse, no discurso de abertura do encontro internacional Democracia, Governabilidade e os Partidos Políticos na América Latina, no Parlatino.

Lopes propôs discutir, durante os dois dias do encontro, as atribuições das agremiações e dos eleitores, que, de acordo com ele, não podem mais ser considerados consumidores de marketing nas campanhas eleitorais.

“Se não fizermos isso, o percentual de latino-americanos que não acreditam mais na democracia vai aumentar”, disse. O levantamento do Pnud, feito m todos os países do continente em 2002, indica que 50% dos latino-americanos estariam dispostos a aceitar um regime de governo forte, desde que resolva as questões sociais e econômicas, e 75% acreditam que a solução das dificuldades nacionais não depende da democracia.

Já no Brasil, 59% não sabem sequer o significado da palavra democracia e apenas 37% apóiam o sistema democrático. “A política é um clube de má fama, e quem quer participar de um clube desses?”, indagou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para justificar o distanciamento entre a população e a classe política. Para Alckmin, o desprestígio dos políticos ocorre com a “ausência de partidos políticos com conteúdo, programas, coerência e fidelidade partidária”.

Esse conflito só será enfrentado se o processo democrático for aprimorado com profunda reforma política.

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