O governo tem que chamar para si a responsabilidade e dar uma resposta pública às demandas das manifestações que estão ocorrendo no País e não cabe à polícia essa responsabilidade, avaliou a coordenadora geral do Instituto Sou da Paz, Carolina de Mattos Ricardo. “A polícia não pode ser a resposta pública do governo. Não é da polícia essa responsabilidade”, afirmou Carolina, ao participar do debate “Manifestações de Rua e a Segurança Pública: limites e controvérsias”, promovido pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (Ceapg), da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp), e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em São Paulo.

continua após a publicidade

De acordo com a coordenadora, todas as esferas do governo – federal, estadual e municipal – precisam ainda disseminar sua resposta pública para a população e também para todos os órgãos envolvidos, como os de segurança. “A polícia é o braço armado do Estado, mas ela responde ao poder político, não é ela que deve escolher como lidar com as manifestações”, afirmou, ressaltando que para que a missão esteja mais alinhada com que o governo quer, “é necessário que cadeia de controle e comando seja informada” da posição oficial.

Segundo Carolina, a polícia ainda traz uma representação simbólica de repressão, mas o papel primordial da ação policial é garantir a segurança e os direitos da população. “Se a PM vai preparada para outra missão – como confronto com manifestantes – vai haver problemas.”

Para a coordenadora do Sou da Paz, um dos principais desafios é profissionalizar a polícia brasileira e ampliar o debate sobre o uso da força por parte dos policiais. “Muitas vezes se confunde o uso da força com a violência. A policia pode usar força, mas isso não é sinônimo de violência”, diz, explicando que há diferentes níveis de força intrínsecos ao papel da polícia. “Só o fato de usar uniforme já aponta a presença da força, o segundo nível é a verbalização. Precisamos ter uma polícia preparada com esses níveis anteriores de força para trabalhar com multidões.”

continua após a publicidade

Para Viviane Cubas, pesquisadora do núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), presente no seminário, uma das funções mais difíceis da polícia é respeitar sua tarefa e atender as expectativas. “As últimas manifestações mostram que a tarefa ainda não foi bem resolvida”, afirma, ressaltando a importância do avanço tecnológico, como a disseminação de câmeras de celular, para o maior controle da ação da polícia. “Isso ajuda a aumentar as denúncias de abuso policial.”

Segundo a pesquisadora, essa violência da polícia infelizmente não é nova e está vastamente documentada em pesquisas. “Um dos fatores que precisa ser lembrado é que parte da população apoia as ações (mais violentas).”

continua após a publicidade