Palocci forma equipe com membros do atual governo

Um dia após atacar duramente o governo Fernando Henrique Cardoso num discurso para integrantes do futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, anunciou ontem que sua equipe terá integrantes da atual administração e poderá até manter uma de suas políticas: a de preços de combustíveis.

Ele confirmou que Joaquim Levy, atualmente economista-chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, será o secretário do Tesouro, e informou que aproveitará funcionários da Secretaria da Receita Federal. Ele afirmou ainda que o novo governo não quer clima de confronto com a administração que sai. “Haverá mudança do secretário da Receita, mas manterei nomes da equipe”, afirmou.

Brasília

– Antes de ocupar o cargo no Ministério do Planejamento, a partir de agosto do ano passado, Levy foi secretário Adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Nascido em 17 de fevereiro de 1961, no Rio de Janeiro, o futuro secretário do Tesouro Nacional se formou bacharel em Engenharia Naval na UFRJ, em 1984. Também tem títulos de doutor em Economia pela Universidade de Chicago (1987-1992), com dissertação sobre estimação da distribuição de probabilidades implícita no preço de opções de câmbio, e de mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (1986-1987), com tese sobre congelamento parcial e excesso de demanda.

Combustíveis

Palocci negou que o aumento de combustíveis anunciado na sexta-feira tenha sido acertado entre o atual e o futuro governo, mas admitiu a possibilidade de a administração de Lula manter política de preços para o setor. “O novo governo vai discutir a nova política de combustíveis e tem a opção de manter a atual política ou criar uma política alternativa”, explicou. “Essa política (a atual) tem razão de ser. Não é uma política sem pilares, sem sustentação, tem um sentido. Evidentemente, o novo governo poder criar uma outra alternativa.”

O futuro ministro lembrou que os preços do setor, atualmente, são pressionados pela cotação internacional do petróleo, que tem subido por causa de problemas de política internacional, e por causa dos problemas cambiais do Brasil. “Acho que essa é uma questão que o (novo) governo vai se colocar. Num determinado momento, o atual governo criou, por exemplo, o apoio ao gás. Isso é uma alternativa, subsídio ao consumo popular. Outra é mudar os determinantes de preço. Mas isso é uma decisão que o presidente (Lula) vai tomar.”

Palocci também descartou a possibilidade de o acordo que suspendeu por três meses os reajustes nos preços dos medicamentos ser repetido em outros setores. “Não vai ser uma prática acordos setoriais ou câmaras setoriais para o controle inflacionário”, afirmou. “Isso não é uma boa medida no geral. No caso da indústria farmacêutica é necessário, porque medicamento é um produto que as pessoas não podem escolher. Nessa situação, precisa-se de uma política especial de preços.”

O futuro ministro disse que, se a questão fosse deixada em aberto, os preços dos medicamentos ficariam livres. “Pela atual legislação, haveria um aumento de 14% em janeiro e depois estariam liberados aumentos freqüentes. O que se conseguiu foi que em seis meses haverá apenas um aumento, programado para março, no valor médio de 8,63%.”

Outras indicações

Palocci reafirmou que 2003 será um ano de muitas restrições e dificuldades, mas garantiu que todos os futuros ministros vão trabalhar sem desânimo ou pessimismo. Ele disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva não deve pedir a sua equipe de governo projetos para serem implementados imediatamente após a posse, já que as medidas deverão ser tomadas em médio prazo. “Resultado em curtíssimo prazo é difícil. Não há nenhuma tendência de fazer projetos de cem dias, porque isso é muito próprio das prefeituras”, afirmou.

Palocci reiterou que o governo Lula vai procurar manter o câmbio equilibrado, sem provocar alta na inflação ou piora nas contas externas do País, garantindo aos investidores e empresários condições de previsibilidade nos investimentos e segurança em relação à estabilidade econômica. Segundo Palocci, esse será o ponto central da política econômica do próximo governo, que não será buscado com artifícios econômicos, mas com uma política consistente. “Temos que ter clareza da função do Banco Central, de cada secretaria e dos ministérios, na composição de ações globais do governo, no cuidado muito rígido com o orçamento. Esse conjunto de coisas pode levar à apreciação do câmbio. Não há uma medida mágica para isso”, garantiu. Ele ressaltou que a volatilidade cambial é um dos fatores “mais perversos” para o processo econômico e, por isso, o futuro governo vai buscar manter o equilíbrio no câmbio.

Discurso

Palocci disse também que o seu discurso realizado na sexta-feira, durante a primeira reunião ministerial, não trazia críticas pessoais ao presidente Fernando Henrique Cardoso ou à sua equipe de governo. Segundo Palocci, o discurso trouxe elogios a diversas ações da atual administração e ressaltou que suas críticas foram relacionadas a três campos específicos do atual governo: planejamento e áreas econômica e social. “Não vamos deixar de dizer ao país qual é a nossa posição. Aliás, não é diferente do que nós dissemos durante a campanha”, reafirmou.

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