Vinte e uma pessoas foram presas na Operação Tentáculos, desencadeada nesta quinta-feira, 07, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) para desarticular a milícia conhecida como Liga da Justiça, maior e mais violenta organização criminosa da zona oeste da cidade. Desse total, 13 já atuaram nas forças de segurança pública (policias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, secretaria de Administração Penitenciária e Exército).

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A Liga da Justiça agia em seis condomínios do Conjunto Ferrara, que íntegra o programa Minha Casa, Minha Vida em Campo Grande, na zona oeste. Lá vivem cerca de 5 mil pessoas em 1.600 apartamentos. Além de cobrarem por serviços de segurança e difusão clandestina de internet e TV a cabo (“gatonet”), os milicianos cobravam taxas extra e obrigavam os moradores a comprarem gás e cestas básicas superfaturadas (de R$ 70, eram vendidas por R$ 220).

Condôminos inadimplentes eram expulsos de suas casas com a ajuda do síndico Ademir Horacio de Lima, o Demi, que também foi preso nesta quinta-feira. A partir daí nascia mais uma fonte de renda ilegal: os milicianos, com o apoio de Demi, alugavam ou “vendiam” os imóveis (os valores variavam de R$ 15 mil a R$ 40 mil por unidade) para outras famílias de baixa renda. Aqueles que tentavam retornar para pegar pertences como roupas e móveis eram brutalmente torturados ou mortos à luz do dia, na frente dos outros moradores “para dar o exemplo”.

Somadas todas as ações na zona oeste, a Liga da Justiça faturava R$ 1 milhão por mês na região. “O modus operandi (da milícia) é a instalação de um reinado de terror sob o qual viviam essas populações subjugadas e onde eles poderiam gerar um volume de riqueza ainda maior”, explicou o promotor Marcos Leite.

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Articulação

As investigações apontam que desde a prisão do ex-PM Toni Ângelo Souza de Aguiar, o Erótico, em julho de 2013, a quadrilha passou a ser liderada pelos ex-PMs Marco José de Lima Gomes, o Gão (preso na terça-feira pela Divisão de Homicídios) e João Henrique Barreto, o Cachorrão (preso nesta quinta). Desde 2007, mais de 800 integrantes da milícia foram presos no Rio.

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“Toni Ângelo, apesar de encarcerado (no presídio federal de Catanduvas, no Paraná), mantinha, reiteradamente, consolidada troca de informações com Gão e Cachorrão”, disse o delgado titular da Draco-IE, Alexandre Capote. “Essa operação deixou o grupo acéfalo, eles demorarão para se reorganizar”.

Ao todo, 350 policiais tentavam cumprir 27 mandados de prisão e 90 de busca e apreensão. Foram apreendidas armas, munições e veículos de luxo, além de documentos que comprovam a movimentação e as atividades ilícitas da quadrilha.

“A milícia está no Rio há 20 anos e nunca foi combatida. No início porque muita gente apoiava e hoje porque criou tentáculos difíceis de se combater. Mas a polícia está fazendo seu trabalho”, disse o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Ele pediu ainda que pessoas que se sentirem subjugadas por milicianos denunciem à polícia.