OAB e juízes protestam. E o crime ameaça no ES

Brasília

(Das agências) – A crise gerada pela recusa do presidente Fernando Henrique Cardoso em aprovar a intervenção federal no Espírito Santo está longe de ter chegado ao fim. Um exemplo foi a declaração ontem do novo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, de que a intervenção não foi descartada, além de protestos da OAB e da Associação dos Magistrados Brasileiros. Enquanto isso, no Espírito Santo foram registradas novas ameaça de morte.

O presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rubens Approbato Machado, declarou ontem, em Brasília, que até terminar o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso a instituição deixará de participar das reuniões do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), organismo do Ministério da Justiça. A decisão é um protesto da entidade pelo recuo do governo de intervir no Espirito Santo. Os conselheiros e diretores da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) voltaram a receber ameaças de morte, em Vitória. As ameaças ocorreram um dia após o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, anunciar o arquivamento do pedido de intervenção federal no Espírito Santo e foram feitas por telefone, por volta das 15h. A intervenção no Espirito Santo foi pedida pela Ordem dos Advogados do Brasil e aprovada em reunião aberta pelo ex-ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior. A decisão do governo federal de assumir a administração no Espírito Santo teria sido combinada com o presidente, mas acabou não sendo cumprida. ?Há uma pessoa que liga para cá mandando a OAB parar de se meter onde não é chamada. Isso é prova de que o que dissemos no pedido de intervenção é verdade. A OAB não pensa em se calar e mantém suas posições?, afirmou a advogada Gladys Bitran, vice-presidente da OAB no exercício da presidência.

A decisão de arquivar o pedido de intervenção federal no Espírito Santo causou uma crise no governo e provocou a maior debandada em um ministério, no governo FHC, em solidariedade a um ministro.

E a situação está longe de ser controlada. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou ontem uma nota pública de repúdio ao ?elevado grau de subordinação política do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ao presidente da República?, principalmente no episódio que culminou na exoneração do ex-ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior. Para a AMB, esta subordinação política mancha a reputação, do Ministério Público Federal perante o País. Apesar de ter votado a favor da intervenção na reunião do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Brindeiro recuou após reunir-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso. A nota da AMB é assinada pelo presidente da associação, desembargador Cláudio Baldino Maciel.

O novo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, tomou posse ontem, no lugar de Miguel Reale Jr, reafirmando o compromisso com os direitos humanos, os povos indígenas, as crianças e adolescentes, além de propor uma cruzada nacional contra o crime organizado. Paulo de Tarso disse que, apesar do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ter arquivado o pedido de intervenção federal no Espírito Santo, isso não significa que a hípótese não possa voltar a ser cogitada.

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