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O racha no legislativo que começou na churrascaria

Tudo começou com uma queixa coletiva de um certo ostracismo político no Legislativo paulistano, mas foi o bife capitão do Zé Turin (PHS) que reuniu o grupo pela primeira vez ao redor de uma mesa, há dois meses, em uma churrascaria na Aclimação, zona sul da capital. Dono de rede de açougues, o vereador de primeiro mandato levou o corte mais nobre de carne – que inclui picanha, baby beef, filé mignon e maminha – para saciar o duplo apetite dos colegas de Câmara, insatisfeitos.

O menu fez sucesso, mas no encontro seguinte José Police Neto (PSD), ex-presidente da Câmara, sugeriu frutos do mar em um bar em Moema, na zona sul. No roteiro gastronômico, que incluiu noite de pizza na Bela Vista, região central, a mesa dos vereadores insatisfeitos cresceu até virar um bloco, e ganhar nome próprio: Grupo dos 17 – em alusão ao total de membros e força política para dificultar os planos do prefeito João Doria (PSDB) em votações de projetos do Executivo, como o pacote de concessões de equipamentos públicos, como parques, à iniciativa privada.

“Não é um grupo contra o prefeito ou seu governo, mas que quer maior participação nas discussões na Casa. Nós que somos novatos nos sentimos atropelados por esse casamento bem feito do presidente (da Câmara) Milton Leite (DEM) com o prefeito. Queremos participar das decisões, legislar, temos de prestar contas aos nossos eleitores”, diz Gilberto Nascimento (PSC), um dos membros do G-17.

O bloco é formado por vereadores de sete partidos (PSD, PRB, PSB, PR, PV, PSC e PHS) que integram a base de Doria. No grupo, nove são novatos. Com o lema “somos aliados, mas não alienados”, o G-17 direciona as críticas a Leite e aos secretários Julio Semeghini (Governo) e Milton Flávio (Relações Governamentais), enquanto poupam o prefeito.

“Foi a carência de representatividade na Casa que fez esse bloco se formar. Todos seremos base do governo, admiramos o prefeito, mas queremos participar do processo. Essa interlocução política não ocorre, não existe diálogo”, diz Zé Turin. Todos negam que o bloco seja para pressionar Doria para ter cargos no governo, como em Prefeituras Regionais.

Reações

“Isso é conversa. Todos eles me apoiam. Qual o objeto desse bloco? São só alguns contrariados brigando por mais espaço”, rebate Leite, que tem sido principal aliado de Doria no primeiro semestre de gestão, garantindo com facilidade a votação de projetos do Executivo até a formação do G-17.

Hoje, o grupo discute seus pleitos em um grupo de WhatsApp e faz ao menos uma reunião semanal. Eles têm votado em bloco e, muitas vezes, jogado ao lado da oposição, que tem 11 vereadores (nove do PT e dois do PSOL). Juntos, eles somam 28 votos, número suficiente para barrar ou obstruir votações de interesse da gestão.

Até agora a articulação tem surtido efeito. Desde a semana passada, vereadores do bloco têm conseguido travar a tramitação do pacote de concessões de Doria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com apoio, até mesmo, de correligionários do prefeito, como Mario Covas Neto (PSDB).

O fortalecimento do G-17 acendeu o sinal de alerta entre os articuladores políticos de Doria. Anteontem, os secretários Semeghini e Flávio convidaram os 17 vereadores para um café da manhã para negociar a aprovação dos projetos de privatização do prefeito previstos para este semestre, como o pacote de concessões.

“As reivindicações do grupo são legítimas. Querem ter participação mais evidente, mais clara. Isso sempre aconteceu em maior ou menor grau no Legislativo. O que é importante nesse Grupo dos 17 é que todos são da base do governo e votam com o governo”, minimizou Milton Flávio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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