Brasil

No Rio, companhia de saneamento muda tratamento de água após contaminação

A Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), estatal fluminense de saneamento básico, decidiu adotar permanentemente uma etapa extra de tratamento, depois de uma semana de reclamações sobre o cheiro, o sabor e o aspecto da água que fornece aos consumidores. Nos últimos dias, a Secretaria de Saúde do Estado registrou aumento significativo nos casos de diarreia, gastroenterite e vômito no Rio, embora ainda não relacione o problema à contaminação no fornecimento.

Logo que as reclamações começaram, a Cedae afirmou oficialmente que, apesar do aspecto, a água estava própria para consumo. Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, no entanto, discordam dessa análise. Muitos dizem que a população não deveria consumir a água nessas condições. Para eles, pode ter havido contaminação maior do que está sendo divulgado oficialmente.

“Eu só estou consumindo água mineral”, afirmou o professor do Instituto de Biologia e da Coppe/UFRJ Fabiano Thompson, morador da zona oeste. “A água está com um cheiro muito forte de terra e um gosto marcante. Ou seja, não está nos padrões de consumo.”

Na semana passada, a Cedae detectou a presença na água de geosmina – um composto orgânico produzido por microorganismos. Mas garantiu que ela estava apropriada para consumo e não fazia mal à saúde.

“Apesar de todos os testes realizados pela Cedae nos últimos dias terem apontado que a água fornecida está dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde, e própria para consumo, a companhia adotará em caráter permanente, a aplicação de carvão ativado pulverizado no início do tratamento”, afirmou a empresa em nota. “Isso será feito para reter a geosmina caso o fenômeno volte a ocorrer.”

Para a coordenadora do Laboratório de Controle de Poluição da Água da Coppe/UFRJ, Márcia Dezotti, identificar a “geosmina é importante, mas não é tudo.” “Ela é um indicativo de que outras substâncias também podem estar passando, podem estar presentes na água.”

A especialista lembrou que muito esgoto in natura é jogado na água e afirmou que é urgente uma modernização do tratamento. “O esgoto de hoje não é igual ao de antigamente”, afirmou. “Tem muito mais substâncias químicas, é supercontaminado. Não pode receber um tratamento antigo, é preciso haver um plano de modernização e de segurança.”

De acordo com números das principais unidades de pronto atendimento da zona oeste, entre 20 de dezembro de 2019 e 5 de janeiro deste ano, o número de casos de diarreia, gastroenterite e vômitos mais do que dobrou. A comparação foi feita em relação ao mesmo período de 2018/2019, quando foram registrados 660 atendimentos. “A Secretaria de Estado de Saúde, porém, reforça que é precoce associar o aumento na procura de pacientes com estes sintomas à água contaminada, principalmente após as festas de fim de ano”, frisou, em nota.

A Secretaria Municipal de Saúde divulgou posicionamento idêntico. “Não é correto afirmar que todos os atendimentos na rede municipal a pessoas com diarreia e vômito se deram pela ingestão de água supostamente contaminada”, informou em comunicado. “A percepção de aumento de casos de gastroenterite no verão e após as festas de fim de ano é normal.”

Voltar ao topo