Nizan define estratégias contra Lula

São Paulo

(AG) – Sentado na sala de sua casa nos Jardins, aquecida pela lareira, o publicitário Nizan Guanaes, responsável pela campanha do tucano José Serra para a Presidência, diz que está cansado da propaganda política. Mas o suposto cansaço não se reflete em seu discurso.

Nizan mostra que está afiado para desafiar o principal adversário de Serra, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, atacando principalmente sua falta de experiência administrativa: “Se me falassem que o Lula seria presidente da ONU, eu ficaria tranqüilo”.

Nos últimos programas do PSDB na TV, José Serra criticou o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Não deveria se preocupar antes em garantir uma vaga no segundo turno?

Nizan Guanaes:

Acho que a eleição deste ano será um plebiscito. É a discussão entre os dois caminhos (governo ou PT). Mas é claro que não sou dono da verdade. A gente não pode ser arrogante, mas tudo indica que o grande debate será entre Lula e Serra.

Nos próximos comerciais, o senhor vai continuar apontando as supostas incoerências de Lula?

Nizan

: Estamos fazendo um levantamento de tudo que o PT votou contra o governo e então todos verão que a incoerência é muito grande. Além disso, mostraremos o PT padrinho, ou seja, como o PT atribui às suas administrações programas feitos com verbas do governo federal. O governo manda o dinheiro e o PT batiza as obras como suas.

Recentemente, Lula disse que algumas pessoas confundem amadurecimento com incoerência.

Nizan:

Se o que aconteceu com o PT foi amadurecimento, estamos diante do terceiro milagre de Fátima. Existem discursos que precisam combinar com as pessoas, senão elas ficam mal dubladas. A boca vai para um lado e o som para o outro. Você não pode dizer: “Eu sou comprometido com a estabilidade econômica, mas sou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal”. O que eles confiam é que a dona Maria não compreenderá a diferença. Mas nós faremos dona Maria entender que não vai ser uma simples alternância de poder, porque se trata de uma outra visão das coisas.

Então as propagandas do PT são enganosas?

Nizan:

É uma maquiagem feita por um profissional extraordinário, que é o Duda Mendonça. É uma coisa mercadológica. Inteligente, mas mercadológica.

O que o senhor achou do último programa do PT, no qual Lula chora três vezes?

Nizan:

Muito bom mesmo. Porque o PT vai puxar pela emoção e nós vamos mudar pela razão. O que é a razão? O PT está escrevendo hoje o que ele acredita? Não. O PT tem um projeto plausível para administrar o País? Não. O Lula é uma pessoa direita, etc. Mas ele tem preparo intelectual? Tem experiência administrativa? Queremos mostrar isso, mas não é desqualificando, satanizando a pessoa. Por que ele não pegou todos esses anos e foi prefeito, governador? Alguém tem dúvidas de que o Lula é uma pessoa admirável? Lula é uma pessoa extraordinária, um símbolo. Se me falassem que o Lula seria presidente da ONU, eu ficaria tranqüilo. Ele é emblemático, um ícone. Mas no quesito operacional é outra coisa.

Foi difícil convencer Serra a adotar o discurso de candidato governista?

Nizan:

Não tenho conversado com o senador Serra, mas ele não tem demonstrado nenhuma divergência. Fernando Henrique sairá consagrado do governo. Mas acho que Serra não deve colar nem esconder Fernando Henrique porque Serra é Serra. Não são irmãos univitelinos.

“Indicação foi coerente”

São Paulo

(AG) – A indicação de Rita Camata, que sempre votou contra o governo, não é incoerente?

Nizan:

Muita gente tem dito que a presença dela é incoerente. Seria se ela fosse vice do Fernando Henrique, porque o Serra representa mudanças. Não é uma opinião, é um fato.

É verdade que sua opinião foi fundamental na escolha de Rita?

Nizan:

Vou me abster dessa pergunta. Tem horas que quando uma coisa se cristaliza como uma versão você pode responder 20 vezes que a versão vai prevalecer. Então prefiro deixar essa versão para o folclore político do Brasil.

Esse discurso de continuidade sem continuísmo não é difícil de ser assimilado?

Nizan:

Não. Porque na vida existe isso. Porque dentro de um casal existe isso. Então vou simplesmente contar a verdade. Serra veio para garantir as conquistas que foram feitas, avançar e corrigir outras coisas. Aliás, quem deve ter dificuldade numa hora dessas é o Lula, em responder se é o candidato do governo. Ele é quem vai ter que decidir essa questão. Era contra o real e agora é a favor. Votou contra tudo que era pela estabilidade e agora é a favor.

O senhor acredita que esta campanha possa descambar para uma guerra de dossiês?

Nizan:

Acho que seria uma coisa muito triste. Se houve um avanço fenomenal é o fato de o Brasil ter três candidatos da maior seriedade: Lula, Serra e Ciro (Gomes, do PPS). São três pessoas decentes, direitas e respeitáveis. É cada acusação fuleira… Não vai ser o nosso tom e não acredito que seja o tom do PT. Espero que a maturidade dudiana abranja essa faceta.

Petista intensifica os cuidados com imagem

São Paulo

(AG) – Não é só o publicitário Duda Mendonça e sua equipe que estão preocupados em remodelar a imagem do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Repaginado para enfrentar a sua quarta eleição seguida, o próprio presidenciável não quer mais aparecer de qualquer jeito em público. Tem pedido a assessores que evitem coletivas tumultuadas e, antes das entrevistas, exige tempo para tomar banho ou alguns minutos para lavar o rosto, pentear os cabelos e melhorar a aparência. Muitas vezes, só chega para as entrevistas depois que os jornalistas já estão sentados e com os microfones na mesa. Com um lenço sempre à mão, procura manter a situação sob controle.

Para não desgastar a imagem, a cúpula do PT encontrou uma maneira não muito tradicional de tratar com a imprensa. O partido foi o primeiro a contratar um porta-voz, André Singer, que semanalmente fala com jornalistas. Lula se esquiva de falar sobre assuntos mais polêmicos sem antes tomar conhecimento total do fato.

– Depois de disputar três eleições, estou mais escolado, inclusive para tratar com a imprensa. Amadureci e me considero mais preparado para ser presidente agora diz.

Para evitar armadilhas, o presidenciável diz também que cada vez está contando mais até dez antes de sucumbir a provocações: – Ninguém vai me tirar do sério por qualquer coisa garante. Lula ajeitou imperfeições na arcada dentária e, segundo informações não-confirmadas, aplicou botox na testa. Assessores garantem que o tratamento dentário não foi idéia de Duda.

Mudanças

Mesmo quando não está em frente às câmeras, Lula evita hábitos hoje não muito aconselháveis. Trocou os quase três maços de Marlboro que fumava por dia por cigarrilhas holandesas. Aos amigos, diz que decidiu parar de tragar. Mas, apesar do trabalho de Duda, Lula ainda recorre a uma velha conselheira sobre o que vestir: a mulher, Marisa. É ela, por exemplo, que recomenda o corte de cabelo a cada 20 dias e a manutenção da barba bem aparada.

Há duas semanas, um produtor que trabalha para Duda foi a Salvador encomendar 20 camisas. São fabricadas por Ernesto de Tomazzo, um italiano que, nos anos 70, desenhava modelos para Jacqueline Kennedy e Marcelo Mastroianni.

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