Os testes com a fosfoetanolamina sintética em humanos, iniciados na segunda-feira, 25 pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), do governo estadual, podem definir o futuro de milhares de liminares que obrigam o poder público a fornecer a substância para pacientes com câncer.

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Em entrevista ao Estado, o diretor do Icesp, Paulo Hoff, afirmou que os testes são necessários para definir se a substância é segura e eficaz, na forma como foi distribuída ao longo de anos, sem qualquer fundamento científico. Segundo ele, o estudo não arriscará a vida dos voluntários. Leia trechos da entrevista.

Os estudos do Ministério da Saúde ainda estão sendo feitos em células e camundongos. Por que o Icesp começou diretamente com os testes em humanos?

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Para determinar a toxicidade no ser humano, é preciso testar em seres humanos. A única diferença do nosso estudo é que ele foi desenhado para avaliar a eficácia de um produto que já está sendo usado pela população. Não há necessidade de fazer escalonamento da dose em animais, pois queremos estudar a dose que as pessoas já vêm tomando.

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Já foram feitos todos os testes necessários em animais?

Não foram feitos estudos com animais de grande porte. Mas não se pode ignorar que milhares de pessoas já tomaram o produto. Antes dos testes em humanos, os produtos são testados em 40 animais de grande porte. Temos milhares de seres humanos em todo o Brasil dizendo que tomaram o produto. Não podemos ignorar isso.

É seguro testar a substância em humanos?

Um estudo clínico de fase 1 serve exatamente para isso. Esse protocolo de pesquisa passou por todos os comitês de ética.

Então, os voluntários não correrão riscos?

Há sempre um risco, mas é assim que funciona. Alguém tem de ser o primeiro ser humano a receber o produto. Aqui nem é o caso, porque dezenas de milhares de pessoas já o receberam. Os pacientes serão acompanhados com todo o cuidado necessário. Tivemos a precaução de somente aceitar aqueles pacientes que não teriam impacto negativo na expectativa de vida caso recebessem dois meses de uma terapia não efetiva.

Por que seguir testando a substância depois dos maus resultados que foram obtidos com os testes federais?

Nosso objetivo é outro. O projeto federal é de desenvolvimento de produto. A missão que recebemos é determinar se o produto que já está sendo utilizado pela população tem benefício ou não, na dose que vem sendo distribuída. O fornecimento dessa dose específica é que está sendo exigido em quase 20 mil liminares concedidas pela Justiça.

A indústria já teria parado os testes depois desses resultados?

A indústria não continuaria o estudo porque ela tem expectativa de retorno financeiro. Mas o Estado não tem interesse financeiro. Nosso estudo não é de desenvolvimento do produto nem é um estudo de registro (de patente). Queremos determinar se o que está sendo demandado por milhares de brasileiros faz sentido.

Alguns contestam que o Estado invista esses recursos.

Os recursos de menos de R$ 1 milhão resolverão um grande problema. Quanto custa para a sociedade brasileira os 18 mil processos que estão tramitando na Justiça? O custo para o Estado seria muito maior se o estudo não fosse feito. Se o produto for bom, não haverá necessidade de ir à Justiça, porque todos vamos querer desenvolvê-lo. Se o resultado for negativo, teremos embasamento para suspender algo que pode custar uma fortuna para o contribuinte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.