O número de consumidores da Grande São Paulo multados por gastar mais água agora do que antes da crise hídrica bateu recorde em dezembro. Segundo balanço divulgado na quinta-feira, 7, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), 14% dos clientes receberam a sobretaxa de até 50% na conta no mês passado, maior índice desde a criação da tarifa, em janeiro de 2015.

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Os dados mostram crescimento no número de consumidores chamados de “gastões” nos últimos meses, marcados por chuvas acima da média nos principais mananciais que abastecem a Grande São Paulo e pela recuperação do volume morto do Sistema Cantareira, no fim do ano. No primeiro mês da sobretaxa, 8% receberam multa. Até novembro, a Sabesp já havia arrecadado R$ 445,1 milhões com multas. Dezembro ainda não foi divulgado.

A sobretaxa de 20% ou 50% na conta é cobrada dos clientes que gastam um volume de água superior à média mensal consumida antes da crise (fevereiro de 2013 e janeiro de 2014). Ela chegou a ser anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) em maio de 2014, quando a Sabesp iniciava a captação do volume morto, mas só foi implementada em janeiro de 2015, após a reeleição do tucano. A multa continua em vigor neste ano.

Ao todo, o número de clientes que elevaram o gasto com água em dezembro foi de 23%, o maior patamar de 2015. Mas 9% não foram multados porque consomem menos de 10 mil litros por mês. Esse comportamento resultou em uma queda de quase 10% no volume de água economizado por meio do programa de bônus, que dá descontos de até 30% para quem reduzir o consumo.

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Em dezembro, o volume poupado foi de 5,6 mil litros por segundo, ou 15 bilhões de litros, o suficiente para abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas, o equivalente às populações somadas das cidades de Sorocaba, Osasco e Ribeirão Preto, segundo a Sabesp. Em novembro, o índice havia sido de 6,2 mil l/s, ou 16 bilhões de litros. Quanto a sobretaxa foi lançada, a meta era atingir uma economia de até 7,3 mil l/s. O recorde, porém, foi de 6,5 mil l/s, em julho. Desde o início do programa, em fevereiro de 2014, quase 280 bilhões de litros foram economizados, o que equivale a 28% da capacidade normal do Cantareira.

O relaxamento na economia de água, que caiu de 79% para 77% dos consumidores, teve impacto na produção da Sabesp, que subiu de 53 mil l/s, em novembro, para 55,3 mil l/s em dezembro, a maior média do ano. Consequentemente, o número de clientes que receberam descontos caiu de 67% para 64%, o que deve amenizar as perdas de receita da companhia. O Cantareira tinha ontem apenas 2,6% do volume útil.

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Na quarta-feira, 6, a reportagem mostrou que a Sabesp deixou de arrecadar R$ 1,2 bilhão em quase dois anos com o programa. A partir deste mês, contudo, os clientes terão de consumir 22% menos água para manter o mesmo benefício na fatura. Agora, quem consumia 20 mil litros antes da crise e podia gastar até 15,6 mil litros para obter o desconto de 30% não poderá exceder 12,5 mil litros. Na prática, o consumidor que antes precisava reduzir o consumo em 20% para ter o bônus de 30% terá agora de economizar 37,5%. Segundo o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, o objetivo da mudança é “dar um estímulo extra” para quem pode economizar mais água, e não recompor o caixa da empresa, que teve prejuízo de R$ 580 milhões no terceiro trimestre de 2015.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.