Mulheres são minoria entre candidatos a prefeito e vereador

Rio (AG) – Elas já são a maioria do eleitorado: representam 51,8% dos brasileiros aptos a votar. Mas, na disputa das 5.563 cadeiras de prefeito e 51.748 vagas de vereador, são minoria: do total de 333.378 candidatos, apenas 22,14% (73.827) são mulheres. Em comparação com 2000, a presença feminina até cresceu três pontos percentuais. Mesmo assim, ficou longe de cumprir a lei que determina cotas de 30% nas chapas. Na disputa das 5.563 prefeituras, a situação se repete. São 1.398 candidatas em um total de 14.982 candidatos, o que representa menos de 10%.

O levantamento é do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), uma organização não-governamental que monitora a presença das mulheres na política. No trabalho, as pesquisadoras usaram os dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Além de saírem atrás na disputa de espaço nos partidos – nenhuma das 27 legendas registradas no TSE cumpriu a cota de 30% – as mulheres que participam da eleição enfrentarão outro obstáculo: o número de cadeiras nas câmaras municipais diminuiu em relação a 2000. Há quatro anos, eram 60.229 vagas. Agora, serão 51.748.

“É lógico que a democracia fica comprometida se as mulheres, maioria do eleitorado, não conseguem uma representação política à altura. Este é um desafio para toda a sociedade”, diz a socióloga Almira Rodrigues, diretora colegiada do CFemea.

Regimentos

O desafio, na opinião da socióloga Almira Rodrigues, começa nos partidos: por enquanto, apenas quatro (PT, PV, PDT e PPS) determinam, em seus regimentos internos, a reserva de vagas em suas direções. Outros 13 criaram secretarias ou coordenações especiais para mulheres e boa parte deles está investindo em cursos de formação para políticas ou editam publicações específicas para suas filiadas. Apesar dessas iniciativas, nenhuma legenda cumpriu a cota de 30% de candidatas.

“O problema é que a conjuntura desestimula a participação feminina. As instituições políticas são essencialmente masculinas e ainda há a dificuldade para as mulheres se equilibrarem entre a vida doméstica, a vida profissional e a militância”, diz a diretora do CFemea.

Almira aponta outro problema: a descrença com a política tradicional. Enquanto a presença feminina nos partidos é pequena, em movimentos sociais e comunitários ou sindicatos elas já estão em pé de igualdade com os homens. “A política eleitoral está muito desgastada. Percebemos que as mulheres preferem outros modos de ação. Mas essa descrença precisa ser revertida”, afirma a socióloga.

Paraná não cumpre cota

Pelo levantamento do CFemea, entre 27 partidos registrados no TSE, os que mais se aproximaram de cumprir as cotas foram o Prona (25,2%), PAN (24,62%), PV (24,08%), PSDC (23,8%) e PT (23,27%). O percentual de candidatas é menor no PP (21,13%) e no PCB (21,27%).

Na disputa das prefeituras, o PSTU chegou a 18% de candidatas, seguido do PRTB (17,85%), PCO (17,64%), Prona (13,51%) e PV (12,81%). Já o PCB não tem uma candidata sequer a prefeita. As cotas, porém, só valem para as eleições de deputados ou vereadores. “Em algumas cidades, partidos como o Prona ou o PSTU chegaram perto de cumprir as cotas. Ao que tudo indica, eles têm uma disputa interna mais igualitária”, observa Almira.

Entre os estados, os cinco que mais se aproximaram de cumprir as cotas foram Rio de Janeiro (24,82%), Mato Grosso do Sul (24,36%), Sergipe (24,32%), Maranhão (24,17%) e São Paulo (24,17%). O Piauí ficou na lanterna: menos de 20% dos candidatos a uma vaga de vereador são mulheres.

Na disputa das prefeituras, os estados com maior percentual de candidatas são Amapá (17,3%), Alagoas (16,74%), Maranhão (14,4%), Rio Grande do Norte (14,17%) e Piauí (13,04%). O último colocado é Santa Catarina (3,7%).

Se, nas chapas, o número de mulheres ficou abaixo do esperado, resta agora torcer pelo resultado das urnas: a expectativa é aumentar em cerca de 10% as bancadas femininas. Em 2000, foram eleitas 7.001 vereadoras e 317 prefeitas.

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