Morre líder comunista mais antigo do Brasil

O líder comunista João Amazonas, presidente do Partido Comunista do Brasil (PC do B), morreu ontem em São Paulo. Amazonas estava internado desde o dia 21 na UTI do Hospital Nove de Julho, com quadro de insuficiência respiratória. O corpo de Amazonas está sendo velado na Assembléia Legislativa de São Paulo desde ontem às 18h. Ele deverá ser cremado hoje à tarde no crematório da Vila Alpina, em São Paulo.

João Amazonas, que havia completado 90 anos no dia 1.º de janeiro, nasceu em Belém, no Pará, e entrou no PCB (Partido Comunista do Brasil) em 1935. Foi deputado constituinte pelo Rio de Janeiro em 1946 e dirigente do partido a partir de 1943, e foi também dirigente estadual do partido no Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Membro do comitê central e do seu secretariado, desde a Conferência da Mantiqueira em 1943, atuou nas áreas sindical, de organização, de propaganda.

Ele dirigiu o Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT) em meados da década de 40, sendo um dos dirigentes que fundou o PCdoB em 1962 e preparou a resistência guerrilheira do Araguaia entre 1968 e 1972. Esteve no exílio entre 1976 e 1979 e se tornou presidente do PCdoB em 1962. Em dezembro do ano passado, duas semanas antes de completar 90 anos e após 67 anos de militância, Amazonas deixou a presidência do partido. A secretaria nacional do Partido Comunista divulgou uma nota em que faz referência a Amazonas como “herói do povo brasileiro”.

Na Câmara Federal, o deputado Haroldo Lima (PCdoB-BA) lamentou a morte do presidente de honra de seu partido, João Amazonas, aos 90 anos de idade. Haroldo Lima fez um relato da luta de Amazonas para redemocratizar o País, ressaltando desde a sua participação na guerrilha do Araguaia até seu empenho em favor de todas as candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. “João Amazonas era uma figura extraordinária. Trabalhei com ele muito tempo na clandestinidade, na luta contra o regime militar, e pude perceber seu caráter, que honrava um povo como o brasileiro”, comentou.

O parlamentar ressaltou a contribuição de João Amazonas na elaboração da Constituição. “Todas as 1.012 emendas apresentadas pelo partido à Constituinte tiveram a sua participação”, frisou. Ele lembrou ainda a participação de Amazonas na Campanha das Diretas-Já. “Em quase todos os comícios ocorridos no País, ele estava presente, com a sua determinação, seus discursos firmes, afirmando sempre que chegará a hora de pôr fim à ditadura em nosso País”, recordou.

O deputado destacou o papel do presidente de seu partido na candidatura de Tancredo Neves à Presidência. “O próprio Tancredo contou que os conselhos de João Amazonas foram fundamentais na sua decisão de desistir do governo de Minas Gerais para candidatar-se à Presidência”, disse. Haroldo Lima chamou a atenção ainda para a participação de João Amazonas na reorganização do partido, em 1962, quando surgiu uma corrente defendendo a mudança no nome do PCdoB para Partido Comunista Brasileiro.

“Ele se rebelou e, com o apoio de mais 100 dirigentes, conseguiu preservar o nome do partido, com seu lema, sua bandeira, seu estatuto e seus princípios”, contou. O deputado disse ainda que João Amazonas, até os 88 anos, dirigiu o PCdoB com firmeza. “O partido está profundamente chocado com a sua morte, pois tinha nesse político seu grande líder e idealizador.” Ele destacou ainda a relação especial que mantinha com lideranças da resistência brasileira, como Miguel Arraes, Leonel Brizola e Ulysses Guimarães. “O PCdoB está de luto e a classe operária brasileira perdeu seu maior representante.”

Segundo ele, João Amazonas foi o grande responsável pela postura intransigente do PCdoB contra o governo de Fernando Henrique Cardoso. O presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou pesar pela morte do presidente de honra do PC do B e líder comunista, João Amazonas, que morreu em São Paulo, aos 90 anos, nesta segunda-feira. FHC declarou por meio do porta-voz, Alexandre Parola, que Amazonas foi “um homem que lutou (…) por seus ideais e deixou uma marca nas lutas populares”.

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