Miséria cresceu no País nos últimos 10 anos

DublinAs desigualdades sociais no Brasil vêm se acentuando nos últimos dez anos e, caso esta tendência se mantenha, o objetivo de reduzir a pobreza a 50% em 2015 não será alcançado, revela um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apresentado ontem em Dublin.

O documento ressalta o enorme “legado de desigualdades” do Brasil, onde 10% dos lares mais ricos têm 70 vezes a renda dos 10% mais pobres. O relatório classifica 175 países por seu nível de desenvolvimento, levando em conta sua renda per capita, os níveis de educação e a expectativa de vida. Na lista dos países de desenvolvimento médio, o Brasil ocupa a 65.ª posição, atrás de outros latino-americanos como Uruguai, Costa Rica, Chile, Cuba e México, mas à frente de Venezuela, Peru, Paraguai e Equador.

As estatísticas mostram que os brasileiros têm uma expectativa de vida de quase 68 anos, que 87,3% da população adulta sabe ler e escrever e que a renda per capita é de 7.360 dólares, uma cifra que oculta as grandes diferenças sociais dentro do país. Um dos problemas mais graves do Brasil, comum a outros países da região, são as grandes desigualdades entre setores de população e entre regiões, segundo os especialistas da organização, que este ano avaliam se os países em desenvolvimento conseguiram avançar nos oito objetivos fixados na Cúpula do Milênio em 2000.

Tais metas são a redução da fome e da pobreza, da mortalidade materna e infantil, conseguir o ensino fundamental universal, promover a igualdade de sexos, administrar de forma sustentável o meio ambiente e reforçar a assistência ao desenvolvimento. No Brasil, “a pobreza começou a cair no início dos anos (19)90, mas a queda foi desigual e não evoluiu suficientemente rápido para que cumprisse o primeiro objetivo de desenvolvimento do milênio”, afirma o relatório.

O país da miséria

No Mapa da Fome no Brasil, uma das regiões mais atingidas, são os Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais. Em Malacacheta, Belo Horizonte, no Vale do Mucuri, Maria de Fátima Cardoso Jesus, idade desconhecida, sai de casa todos os dias às 5h para ganhar, dependendo da produção na roça de café, no máximo de R$ 6. O marido, Sebastião Chagas de Jesus, que calcula ter 60 anos, toma o rumo da mesma vereda, no sítio São João da Mata, município de Malacacheta, no vale do Mucuri, para ganhar a mesma coisa. O suficiente para “o sal”, diz.

A situação nos sertões do País de pessoas como esta família é difícil de ser superada em parte devido aos grandes e pequenos produtores rurais dos vales mineiros que fazem eco contra qualquer programa social do governo que distribua recursos. A queixa tem razão direta e econômica, embora a desculpa usada seja a de que os benefícios deveriam estar associados ao trabalho. Como remuneram muito mal, eles vêem os programas como concorrentes. “É um discurso oportunista, baseado na lógica de que muita gente deixa de se submeter à exploração”, diz o prefeito de Carbonita, Marcos Lemos (PT), presidente da Associação dos Municípios do Alto Jequitinhonha.

Sul mais perto de reduzir a pobreza

Dublin – Segundo as últimas estatísticas disponíveis, o sul é a única região brasileira que, se mantiver as tendências atuais, conseguirá até o ano de 2015 reduzir à metade a proporção de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, segundo o relatório das Nações Unidas. O relatório também aponta uma queda no Nordeste, a região mais pobre, e no Centro e no Sudeste do país. O Norte é a única região onde a pobreza aumentou, passando de 36% em 1990 para 44% em 2001. “A culpada não é a escassez de recursos, mas uma persistente e alta desigualdade”, ressalta o relatório, segundo o qual também houve um retrocesso do índice de desenvolvimento humano dessa região.

Em nível nacional, no entanto, o índice de desenvolvimento humano seguiu uma contínua tendência de alta desde 1975, e passou de uma avaliação de 0,643 a 0,777 neste ano. Desde 1997, o Brasil calculou seu próprio índice anualmente para cada um de seus mais de 5 mil municípios e, em alguns deles, foram adotadas medidas, como no estado de Minas Gerais, para aumentar os recursos aos mais desfavorecidos. O relatório destaca também o caso de Porto Alegre, onde o acompanhamento público das verbas locais implicou melhoras em serviços. E, enquanto em 1989 pouco menos da metade dos habitantes tinha acesso à água potável, sete anos mais tarde quase todos já dispunham do recurso.

Apesar da crise econômica, a Argentina se mantém como o primeiro país latino-americano em termos do índice de desenvolvimento humano medido.

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